No geral, o sinal é de melhora na escassez de insumos para a indústria, mas ramos importantes, como veículos e produtos de metal, seguem relatando um fator limitante para a expansão da produção
A indústria de máquinas e equipamentos, que consome mais de 300 tipos diferentes de aço, enfrenta seu pior momento no que diz respeito ao desabastecimento do insumo, de acordo com a Abimaq, associação que representa o setor.
“Está um caos. Nunca esteve tão ruim. Nem no ano passado, entre agosto e dezembro. Estamos no pior momento de desabastecimento de aço”, afirma José Velloso, presidente-executivo da Abimaq.
Reportagem do Valor de hoje mostrou que, no geral, o sinal é de melhora na escassez de insumos para a indústria no início de 2021, mas ramos importantes, como veículos e produtos de metal, seguem relatando a situação como um fator limitante para a expansão da produção.
“São segmentos que usam insumos da mesma cadeia. Percebemos que houve dificuldade de acesso a produtos da área de metais. Em novembro, por exemplo, houve muito relato da dificuldade de acesso a aço. O que nós vemos é que essa dificuldade de acesso vem se mantendo, pressionando setores que utilizam esses insumos”, observou na reportagem Claudia Perdigão, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).
O maior problema, segundo Velloso, são os preços praticados, mas há registros de entraves também no fluxo de produção. “Não é generalizado, mas tenho notícias de associados com linha de produção parando ou dando férias por causa da falta de matéria-prima”, acrescenta.
Segundo a Abimaq, de janeiro de 2020 até fevereiro deste ano, os preços do aço subiram, em média, 60% a 65% nas usinas, com alguns tipos de produto registrando altas de até 80%. Na distribuição, esse aumento varia de 80% a até mais de 100%, diz Velloso. “Se falar que é por causa do preço do minério de ferro, carvão, essas coisas, não justifica, porque o aumento é muito maior”, afirma ele. A pressão na indústria de máquinas é grande, observa Velloso, e os associados da Abimaq estão tendo de fazer repasses aos preços.
O executivo conta que, houve, em outubro do ano passado, uma reunião entre a Abimaq e entidades que representam a siderurgia e a distribuição do aço. “Tivemos a promessa das siderúrgicas de que iam direcionar mais produção para o Brasil, menos para exportações. Eles prometeram religar altos fornos, aumentar a capacidade produtiva e disseram que fizeram, então não entendo por que as questões do atraso na entrega do aço e a falta de matéria-prima estão muito piores hoje do que no ano passado”, diz Velloso.
Em nota, o Instituto Aço Brasil lembra que, no auge da pandemia no ano passado, a indústria brasileira do aço teve que abafar altos fornos e paralisar outras unidades de produção, chegando a operar com apenas 45% de sua capacidade instalada. “Logo que os sinais de recuperação da demanda de aço surgiram, o setor do aço religou seus equipamentos e reativou sua produção, para atender o retorno dos pedidos dos clientes. Hoje, a utilização da capacidade instalada (67,3%) já ultrapassou a de janeiro de 2020”, afirma.
Segundo a entidade, a indústria brasileira do aço está plenamente capacitada para abastecer o mercado interno. “No momento, ajustes ainda estão sendo realizados no mercado face à necessidade da reposição de estoques na distribuição e consumidores.”
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