Falta pavimentação em 80% das rodovias do País
Compartilhe
04 de Setembro de 2014 – 05h24 horas / Jornal do Comércio

Pelos quase 1,7 milhão de quilômetros de estradas que cortam o Brasil é escoado 58% do volume nacional de cargas. No entanto, 80,3%, mais de 1,3 milhão de quilômetros,  não são pavimentadas. Ao todo, o País tem 12,1% de rodovias pavimentadas; os outros 7,6% são vias planejadas, isto é, aquelas que ainda não saíram do papel.

 

Dividida por esfera de jurisdição, a malha rodoviária sob responsabilidade dos municípios é a que menos tem estradas pavimentadas, apenas 2%. Nas que estão na esfera estadual, a pavimentação não passa de 43,5%. As federais, por sua vez, têm 54,2% das vias asfaltadas. Os dados, de junho deste ano, são do Sistema Nacional de Viação, do Ministério dos Transportes, e incluem a rede rodoviária administrado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), concessões, convênios e MP-082.

 

A falta de pavimentação é apenas um dos problemas da infraestrutura logística brasileira. Em 2013, 300 profissionais das 250 empresas que mais faturaram no setor participaram de uma pesquisa do Instituto Ilos, e 99% disseram acreditar que a infraestrutura logística causa perda de competitividade para o País. Ao todo, 97% apontaram que estradas malconservadas são o principal problema. Levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), também de 2013, foi além: viu que o acréscimo médio do custo operacional devido às condições do pavimento das rodovias brasileiras é de 25%.

 

“Sob responsabilidade do Dnit, 10% não são pavimentadas, mas a geração de riqueza não se dá só na esfera das estradas federais”, reconhece o diretor geral do Dnit, Jorge Fraxe. “Por lei, a não ser que mude o marco legal, não podemos fazer absolutamente nada fora das BRs. Defendo que municípios, estados e União tenham metas estratégicas ao longo de 20 anos, que haja um plano estratégico em conjunto. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dá condições para criar infraestrutura e é um caderno de prioridades. Se houver esse caderno para estados e municípios, podemos avançar mais.”

 

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a frota habilitada a circular, só de caminhões e reboques, em junho deste ano, era de 5,035 milhões. No primeiro semestre, acidentes envolvendo veículos de cargas já deixaram 392 mortos e mais de 3.600 feridos. “A expansão territorial da demanda brasileira nos últimos 50 anos não pode ser comparada a nenhum país nos últimos 200 anos. Então, precisamos de investimento sustentado em modais de transporte. Países continentais como China, Canadá e Austrália mantêm nos últimos 30 anos a taxa de investimento em logística de transporte em 3,4% do PIB ao ano. Aqui, é 0,6%”, diz Paulo Resende, coordenador do núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

 

Consultor de Infraestrutura Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet conta que caminhões transportando soja e milho cruzam trechos de 500 quilômetros a 1 mil quilômetros para chegar aos portos de Santos ou de Paranaguá.  “O ideal era não cruzar mais de 400 quilômetros. Produzimos 60 milhões de toneladas de soja e milho nas novas fronteiras e isso é levado para o Sul e o Sudeste. Com mais hidrovias e ferrovias, desafogaríamos as rodovias.

 

Antônio Gomes, da Embrapa, afirma que “caminhões, por exemplo, que transportam frutas têm que rodar lentamente, por conta da má conservação das estradas, além de enfrentar o sol. Quando chega ao destino, parte da produção não pode mais ser comercializada. O Brasil perde US$ 2,2 bilhões por ano, 50% no manuseio da carga e no transporte”, lamenta.

A produção de grãos, que durante 2014 está estimada em 200 milhões de toneladas, chega a ter, de acordo com o pesquisador da Conab Marilson Campos, perdas de 20%, incluindo o que é desperdiçado durante o transporte por estradas em que os caminhões trafegam sacolejando entre os buracos.

 

Por e-mail, o Ministério dos Transportes informa que, em 2014, os investimentos previstos em rodovias são de R$ 11,5 milhões. Para ferrovias, R$ 3,3 milhões, hidrovias, R$ 217 milhões e Marinha Mercante, R$ 4,6 milhões. E revela que o Plano Hidroviário Estratégico, em execução, trata da implantação e expansão de hidrovias. Sobre o Plano de Logística e Transporte, que tem como meta reduzir o transporte de cargas pelas rodovias para 30% até 2025, diz que “todos os esforços do ministério são direcionados para o exato cumprimento.” Segundo as informações do Ministério dos Transportes, “o Dnit mantém contratos de manutenção permanente em 49.725 quilômetros de estradas federais. E com os recursos do PAC, mantém obras em 7.357 quilômetros de rodovias.”

 

Redes sociais refletem queixas e insatisfação

 

Relatos sobre acidentes, muitos deles fatais, e sobre a má conservação representam o maior volume de menções a estradas nas redes, segundo o monitoramento realizado pela FGV/DAPP “que registrou 61 mil referências ao tema entre os dias 15 e 22 de agosto. O retrato das redes revela um cenário de insatisfação com o principal modo de transporte do País e se soma à insatisfação com o transporte público nas grandes cidades.”

 

As referências classificadas na categoria “acidentes” chegaram a 4.800 no período, “quase 10% do total” e se mostraram bem distribuídas geograficamente, sugerindo uma realidade comum ao País. As queixas sobre a má conservação se concentraram no RJ, SP, MG e RS. A estrada mais mencionada, nesse sentido, é a BR-101, via que percorre boa parte do litoral brasileiro, seguida pela BR-381 e pela BR-116, todas de grande importância para a infraestrutura rodoviária e responsáveis pela maior parte do transporte de cargas e passageiros no Brasil.

 

A FGV/DAPP monitora dados em redes sociais, como o Twitter e o Facebook, com o auxílio de softwares de busca de menções online. Expressões e vocábulos referentes aos objetos de pesquisa são relacionados e classificados com a utilização de técnicas de análise textual, de forma a restringir as menções ao tema de interesse.

 

Em relação aos pedágios, foram registradas cerca de 900 menções, sendo que mais da metade (61%) contendo visão negativa, sobretudo pelo valor de tarifas em estradas de São Paulo e do Paraná. As referências positivas, apenas 6% do total, em geral fazem a defesa de concessões como possível solução para a má conservação das rodovias federais e estaduais. A busca por alternativas à infraestrutura rodoviária, como os sistemas ferroviário e portuário, desponta também como tema pertinente da pauta pública relativa a soluções de mobilidade e desenvolvimento.

 

As menções a acidentes, mortes, estradas perigosas e queixas por má conservação evidenciam a necessidade de uma infraestrutura rodoviária segura e adequada. Não se verificam alertas ou clareza na incidência dos problemas citados nas redes por parte dos governos e empresas responsáveis. O retrato do monitoramento revela, portanto, a demanda por políticas públicas voltadas não só à melhoria da qualidade das rodovias, mas também por mais transparência quanto aos problemas e às ações efetuadas ou planejadas para resolvê-los.

 

Grupo Invepar faz empréstimo para a BR-040

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) informou, nesta semana, que vai conceder empréstimo-ponte de R$ 965,75 milhões à Concessionária BR-040, do Grupo Invepar, no âmbito do Programa de Investimentos em Logística (PIL).  Segundo o Bndes, os recursos serão aplicados nas obras previstas para os dois primeiros anos de concessão, até que seja concluída a análise do empréstimo de longo prazo.

 

O  dinheiro corresponde a 69% dos gastos iniciais previstos, que incluem melhorias no pavimento e na sinalização e segurança, além dos sistemas elétricos e de iluminação. A Concessionária BR-040 venceu o leilão de concessão de um trecho de 937 quilômetros da BR-040, que liga Juiz de Fora, em Minas Gerais, a Brasília, passando por Belo Horizonte.

 

Oito grupos disputaram o leilão, em dezembro. O grupo Invepar, ofertou preço de pedágio 61,13% inferior ao teto fixado pelo governo.  De acordo com o Bndes, deverão ser gerados 5.920 empregos diretos e indiretos até a conclusão das obras no quinto ano de concessão. Na operação da rodovia, a concessionária empregará 800 trabalhadores. Para contratação e desembolso desse empréstimo-ponte, o Bndes contará com garantia de cartas de fiança bancária, a serem emitidas por instituições financeiras previamente aprovadas pelo banco de desenvolvimento.

 

Também fica autorizada a constituição dos direitos emergentes da concessão em garantia da presente captação, desde que não comprometam a operacionalização e a continuidade do serviço público concedido. A BR-040 é a principal ligação rodoviária entre o Distrito Federal e Minas Gerais, servindo à região metropolitana de Belo Horizonte e cidades como Contagem, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Sete Lagoas, Santos Dumont, Juiz de Fora, Luiziânia (GO), Cristalina (GO), entre outras.

 

A BR-101 em Pernanbuco se transformou em via urbana

 

Somando estradas estaduais e federais, Pernambuco possui 7,6 mil quilômetros de malha rodoviária, mas 35% são considerados “ruins e péssimos”, de acordo com a Confederação Nacional dos Transportes. Como se buracos, falta de acostamento, sinalização deficiente e risco de acidentes com pedestres na pista não bastassem, há rodovias como a BR-101, que acusam sinais de estrangulamento.

 

Apesar de duplicada, a BR-101 não mostra fôlego para suportar o tráfego provocado pelo crescimento do complexo industrial portuário de Suape, em Ipojuca. No complexo, há 100 empresas e 35 outras de grande porte em implantação. E, no lado norte de Pernambuco, já no limite com a Paraíba, fica o município de Goiana, onde vem sendo construído o primeiro polo automotivo do estado. A previsão é de que a montadora movimente por dia 600 caminhões truck, 85 cegonhas, 40 carretas, 180 ônibus (em três turnos de viagem) e 800 veículos leves.

 

Em comum, Suape e o polo têm a BR-101 como única alternativa de escoamento. De acordo com o Dnit, o movimento já é de 40 mil veículos por dia, só no contorno metropolitano. “A BR-101 está tão ruim, tão congestionada, que a velocidade fica entre 10 e 20 km/h. Tem trecho que é até pior, não dá mais de 5 km/h, como o que liga Jaboatão dos Guararapes a Abreu e Lima. “Já teve dia de esgotar a paciência, com 5 km/h”, afirma o caminhoneiro Derli Grilo, de 63 anos, há 40 nas estradas do País.

 

“A BR-101 funcionou realmente como uma BR até os anos 1970. Mas se transformou em uma via urbana, e não suporta mais o grande movimento”, reconhece José Cavalcanti Carlos Júnior, secretário executivo de transporte em Pernambuco.

 

Questionado, o Dnit responde que “ao longo do tempo, a BR-101 adquiriu característica de avenida de intenso tráfico”. Em nota, atribuiu o desgaste do asfalto ao “excesso de peso dos veículos” e à idade da rodovia, que tem 35 anos, e esgotou “suas estruturas pavimentadas”. Ainda de acordo com o Dnit, a invasão das faixas de domínio ocasionou problemas na drenagem, que acabam prejudicando a durabilidade do asfalto.

 

Os problemas não são apenas esses. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a incidência de acidentes entre os quilômetros 50 e 80 é grande; esse é o trecho que corta a Região Metropolitana de Recife. Em 2013, foram registrados 1.838 acidentes no trecho urbano, com 26 mortos. “Muito ruim também é no trecho que fica entre Xexéu e Palmares, que não foi duplicado. Se for comparar a BR-101 naquela região com as estradas no meio das roças, as segundas são melhores”, reconhece Grilo.


voltar

SETCESP
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.