Se o cenário atual de rodovias no país já mostra que há um desnível entre a infraestrutura disponível e a demanda de transporte, as previsões para o futuro são desanimadoras. Um estudo divulgado pela Fundação Dom Cabral (FDC) mostra que, considerando as condições da malha rodoviária, os investimentos previstos e a deterioração que ocorre com o tráfego, as estradas estarão piores com o passar do tempo.
Hoje, 45,7% das pistas do país estão classificadas em nível péssimo ou inaceitável de transporte. Significa dizer que quase metade das vias tem concentração alta ou altíssima de fluxo de cargas, passageiros e veículos quase sem nenhum conforto ou conveniência para os usuários.
O coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, professor Paulo Resende, acredita que a situação das rodovias será um grande desafio para os próximos governantes, devido aos impactados da deterioração das pistas na economia do país. “Somente nos últimos dois anos, essa situação implicou em uma perda adicional de R$ 15,5 bilhões para os embarcadores de transportes, que assistiram seus custos logísticos crescerem a um patamar de quase 8% no período. A conta final é paga pela população, pois os custos são embutidos nos preços finais dos bens adquiridos”, opinou em um artigo enviado à reportagem.
Necessidades
Além de melhoras nas condições das vias, o desafio é de, pelo menos, manter as condições atuais. O estudo aponta que, se foram investidos nas rodovias apenas o que hoje está previsto, haverá uma piora no quadro de transportes do país, com quase 60% das vias em condições péssimas ou inaceitáveis em 2035.
“O Brasil requer planejamento de longo prazo, com projetos estruturantes assumidos e protegidos pela sociedade e inseridos numa agenda de Estado para a infraestrutura. Mas os planos devem combinar a melhoria da eficiência rodoviária constante com a reestruturação planejada da atual matriz multimodal de transporte”, defendeu Resende. As alternativas, segundo ele, são aplicações em modais ferroviários e hidroviários.
Violência nas estradas
A péssima situação das estradas é, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o principal motivo para que Minas Gerais seja o Estado com o maior número de mortes em estradas federais. Entre 2007 e 2017, 12.367 pessoas perderam a vida em acidentes nas BRs mineiras, o que representa 14,9% das mortes em todo o país no período.
O diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, diz que apesar de Minas ter a maior malha rodoviária do país, o que explica o alto número de mortes não é o tamanho, mas a qualidade das rodovias. Para ele, as BRs 116, 153, 381, 040, 364 e 262, são as que demandam maior atenção, por terem a capacidade saturada.
“O investimento em infraestrutura nessas vias é essencial, sobretudo em duplicação, implantação de acostamento e sinalização. Só assim os índices alarmantes de ocorrências poderão diminuir”, observa o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.
O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) informou que está fazendo ações de manutenção nas BRs 116 e 151. O órgão também é responsável pela duplicação da BR-381, e disse que os atrasos aconteceram por “restrição orçamentária” e por “complexidade da obra”.
A Via 040 é a concessionária responsável pela BR-040. A empresa informou que duplicou 13,1% do que estava previsto e que a continuidade das obras depende ainda de licença ambiental. Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que as concessionárias que não cumprirem com as duplicações são sujeitas a multas e a perderem a concessão.
voltar