Efeito cascata
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Bastante dependente do comércio exterior, o segmento de transporte aduaneiro sentiu os impactos da pandemia, e junto a isso, a crise da economia global

Com o desembarque definitivo da COVID-19 no País, a economia nacional passou a partilhar das mesmas dificuldades e incertezas que os países europeus e a China, maior parceiro comercial do Brasil, já vinham experimentando há alguns meses.

O comércio exterior e as fronteiras são os pontos chaves para o transporte aduaneiro, informou o diretor da especialidade no SETCESP, Paulo Scremim, “portos, aeroportos, fronteiras terrestres são conhecidos como nossas zonas primárias”, segundo ele as regiões onde existem expressiva concentração de cargas destinadas à importação ou exportação.

A crise que veio de fora para dentro derrubou a produção em escala mundial. Na cadeia da logística, tudo que sai e entra é escoado pelo segmento aduaneiro. Para as cargas que vêm ou partem de navios e aviões, são os veículos rodoviários de cargas que as levam na primeira e na última milha.

No mês de abril, a IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) mediu uma queda global de 14% no transporte aéreo de carga, conforme notícia publicada no Jornal Valor Econômico. As previsões para até o final do semestre é que esse número possa chegar até 31%.

“O quadro é que o transporte aéreo teve muita queda nos setores como o de autopeças, eletroeletrônicos e maquinários industriais, em contrapartida, um aumento nas importações de medicamentos e materiais hospitalares, mas que ainda assim, não conseguem preencher a diminuição”, acrescenta Paulo.

Recessão também nos terminais portuários e empresas de navegação. A BTP (Brasil Terminal Portuário) confirmou uma queda de 40% nos volumes de importação da Europa no mês de abril.

Confirmando as mesmas previsões, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou um estudo, que afirma que a desaceleração do comércio internacional causada pela pandemia causará uma retração das exportações brasileiras entre 11% e 20% neste ano.

Embora as fronteiras terrestres tenham se mantido abertas com permissão para cargas e de descargas, isso trouxe pouco impacto para a especialidade.

Com a escassa quantidade de cargas entrando e também partindo, a demanda que esse segmento atende caiu, consideravelmente, e o que cresceu foi a ociosidade nas empresas.

Por aqui, com a finalidade de tratar sobre o grande desafio da falta de demanda, a diretoria da especialidade aduaneiro se reuniu no dia 6 de maio, via web, para juntos discutirem possíveis soluções.

Entre as reivindicações da diretoria sempre estiveram pautas como a melhoria da infraestrutura no País e a diminuição da burocracia com a Receita Federal e outros órgãos de regulação do governo, que exigem uma documentação excessivamente extensa para que se atue nesta área.

 “Essa é uma área bastante específica em que não se transita de maneira simplificada. Há uma responsabilidade fiscal muito grande”, conta o participante Alexandre Aparecido de Oliveira, diretor comercial da DTA Cargo e Logística.

Falando sobre gestão, em circunstâncias tão adversas os empresários compartilharam sobre o que estão fazendo para sobreviver à crise, e ao mesmo tempo, manter o quadro de funcionários.

Alguns revelaram que optaram por conceder férias aos funcionários, outros fizeram escalas rotativas, e ainda, houve também quem aferiu uma redução de salários. Demissões, embora tenham ocorrido, foi a última das alternativas.

O assunto entrou na pauta de discussão porque os empresários sabem o quanto a mão de obra é importante e reconhecem o valor de seus colaboradores. “Agora é a hora de levantar a moral da tropa”, disse Paulo fazendo menção a um campo de batalha para avaliar o cenário.

“Você pode ter o melhor general e a melhor estratégia,  mas se você não tiver bons soldados seu plano está fadado ao fracasso”, complementou Alexandre.

A reunião foi concluída sob um consenso geral dos participantes de que apenas juntos; empresários, funcionários, cidadãos e o governo conseguirão fazer com que essa situação passe o mais brevemente possível. E tudo volte à normalidade com as cargas surgindo e a zarpando em escala muito maior do que no momento.

 


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