A desvalorização do real frente ao dólar foi o que mais ajudou a mudar o sinal da rentabilidade do exportador no decorrer do primeiro trimestre deste ano. O índice de rentabilidade média que no acumulado em 12 meses caiu de forma ininterrupta desde agosto de 2016, foi para o campo positivo em fevereiro, quando subiu 0,8%. Em março, avançou para 1,1%. Em igual mês de 2017 a margem do exportador caiu 9,3%, também no critério dos 12 meses. No acumulado até março a rentabilidade avançou 3% contra igual período do ano passado.
Com a desvalorização cambial de 11,7% do início de abril até sexta-feira, o avanço da rentabilidade nos embarques deve se intensificar e se consolidar no segundo trimestre, segundo analistas. A expectativa é de que ao fim no ano a variação do índice também feche no azul. Os dados de rentabilidade são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A desvalorização cambial foi a principal variável que contribuiu para o avanço da margem do exportador. A depreciação do real frente ao dólar de 3,2% nominais no acumulado até março neutralizou o efeito da alta de 1,3% no custo de produção. O aumento de 1,1% no preço médio no tal das exportações também contribuiu para o crescimento da rentabilidade.
Os dados da Funcex mostram que também houve desvalorização do real pelo câmbio real no terceiro mês do ano. Usando o Índice de Preços por Atacado (IPA) como deflator, a depreciação do real em relação à moeda americana em março foi de 4,5% contra igual mês do ano passado e de 3,7% no acumulado em 12 meses. Pelo IPC, que mede a variação de preços ao consumidor, houve desvalorização de 4,4% em março.
Em 12 meses o real valorizou-se frente ao dólar, em 3,7%. André Mitidieri, economista da Funcex, diz que a desvalorização cambial traz mais rentabilidade ao exportador, mas também pressiona o custo de produção principalmente pelo aumento do preço em reais dos insumos importados. "Esse efeito, porém, não é imediato. O custo de produção de abril e maio ainda refletem o dólar de janeiro ou fevereiro", diz.
Por isso, avalia ele, a expectativa é de que a recuperação da rentabilidade mantenha o avanço ao fim do primeiro semestre deste ano. "Ao fim de 2018 o índice também deve ser maior que o do ano passado. Além da desvalorização cambial, o custo de produção também deve ajudar porque embora ainda esteja aumentando, vem desacelerando", diz Mitidieri. No acumulado em 12 meses aé março, o custo de produção subiu 1,5%. No mesmo critério, a alta até março de 2017 foi de 5,8%. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem análise semelhante. "Dada a desvalorização do real até agora, o ganho de rentabilidade deve se acentuar no segundo trimestre. Mesmo que haja um ajuste no câmbio, isso não deve vir de forma tão rápida quanto a desvalorização", diz.
E tudo leva a crer que o preço médio do dólar em 2018 será maior que o do ano passado, num nível suficiente para resultar em aumento de rentabilidade no ano. O que pode reduzir a pressão do insumo importado no custo de produção, avalia Castro, é a procura, pela indústria, de insumos nacionais que possam substituir os comprados do exterior. Esse é um fenômeno que deve já acontecer pontualmente, acredita ele. O que pode elevar o custo de produção, diz Castro, é o efeito da alta nos preços do aço e dos combustíveis na indústria de transformação.
"Mesmo assim, a desvalorização cambial, com velocidade muito maior que a da elevação de custos, deve garantir o avanço da rentabilidade da exportação." Entre os grandes setores, o único que apresentou recuo foi o da agricultura e pecuária, cuja margem de lucro caiu 4,3% no primeiro trimestre contra igual período do ano passado. O custo de produção do setor subiu 1,7%, mas foi a queda de 5,7% no preço das exportações que neutralizou a contribuição positiva do câmbio.
A rentabilidade da exportação da indústria extrativa avançou 10,2% em igual período. Nesse setor o avanço da margem foi maior porque o comportamento do custo de produção e dos preços médios de exportação foram favoráveis. Enquanto o custo de produção caiu 1,1%, o preço de embarque subiu 5,6%. Na indústria de transformação a rentabilidade avançou 3,3% no primeiro trimestre, com alta de 1,6% no custo de produção e elevação de 1,8% no preço médio de exportação. Dos 29 ramos de atividade que a Funcex acompanha, em 18 houve aumento de rentabilidade no primeiro trimestre, com destaque para celulose e papel (25,1%), derivados de petróleo (7,7%), metalurgia (14,2%), produtos têxteis (6,9%) e de madeira (7,5%).
Na exportação de produtos manufaturados, diz Castro, o que pode influenciar o desempenho brasileiro é o cenário da Argentina. "O que se esperava é que a economia argentina cresceria 4% este ano. Agora a expectativa é de 2% ou até abaixo disso, o que deve reduzir a demanda por importados pelos argentinos e a indústria de transformação brasileira é a que mais vai sentir." Mitidieri, da Funcex, acredita que a queda de demanda argentina deve afetar inicialmente o volume exportado pelo Brasil e também, num segundo momento, os preços. Para as empresas exportadoras, o ganho de rentabilidade pode elevar o resultado geral em reais e neutralizar parte dessa perda.
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