Os efeitos da paralisação dos caminhoneiros sobre a conjuntura econômica foi um dos pontos debatidos pelos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião, realizada na semana passada. É o que informa ata desse encontro, divulgada nesta terça-feira, que explica a decisão de manter os juros básicos em 6,5% ao ano e da retirada a indicação dada anteriormente de deixar a taxa nesse nível em pelo menos na reunião seguinte, que ocorre nos dias 31 de julho e 1º de agosto.
Ao discutir os possíveis efeitos mais permanentes dos choques que afetam a economia, concluíram que, no curto prazo, deverá ser mais difícil compreender suas repercussões sobre o cenário básico. "No curto prazo, deverá ser mais difícil verificar se a evolução da economia segue em linha com seu cenário básico para o médio e longo prazos", traz o texto.
"Esse contexto reforça a importância de acompanhar ao longo do tempo a evolução do cenário básico e seus riscos e de avaliar a perenidade dos efeitos dos choques sobre a inflação (i.e., seus efeitos secundários) de forma a garantir que a conquista da inflação baixa perdure, mesmo diante de choques adversos", informa a ata.
O colegiado acredita que o impacto da paralisação e outros choques sobre os preços será "altista" e "significativo", mas que isso deve ser temporário, constituindo ajuste de preços relativos, sem colocar em risco a dinâmica favorável da inflação. Pondera, contudo, que "a paralisação no setor de transporte de cargas no mês de maio dificulta a leitura da evolução recente da atividade econômica".
Segundo o Copom, a paralisação dos caminhoneiros e seus desdobramentos ocorrem em um contexto em que "dados referentes ao mês de abril sugerem atividade mais consistente que nos meses anteriores".
"Indicadores referentes a maio e, possivelmente, junho deverão refletir os efeitos da referida paralisação", afirma o documento. "A evolução da economia ao longo dos meses de julho e agosto deve indicar com mais clareza o ritmo da recuperação, que poderá se mostrar mais ou menos intensa".
O cenário básico do Copom contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, embora em ritmo mais gradual que o estimado antes da referida paralisação.
Além do impacto da greve, o colegiado também discutiu o chamado balanço de riscos, ou os fatores que podem fazer a inflação ficar acima ou abaixo dos valores projetados.
"Em relação ao balanço de riscos, por um lado, avaliou-se que o risco baixista para a trajetória prospectiva da inflação, decorrente do nível baixo de inflação no passado recente, diminuiu", afirma o Copom. "Por outro lado, discutiu-se a importância da continuidade do processo de ajustes e reformas na economia brasileira para mitigar o risco associado a deterioração do cenário para economias emergentes num contexto de frustração das expectativas sobre essas reformas e ajustes".
Os integrantes do Copom do Banco Central (BC) reiteraram que as atuais condições da economia brasileira prescrevem política monetária estimulativa. "A conjuntura econômica com expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis baixos, projeções de inflação um pouco abaixo da meta para 2018 e 2019 e elevado grau de ociosidade na economia prescreve política monetária estimulativa".
"A política monetária seguirá os mesmos princípios tanto diante de choques inflacionários (como no caso de um choque externo que produza depreciação cambial) quanto desinflacionários (como no caso de um choque favorável nos preços de alimentos)", explica a ata. O documento ressalta que "essa prescrição requer manutenção do ambiente com expectativas ancoradas".
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