Segundo as polícias Civil, Militar Rodoviária e Rodoviária Federal, a Anhanguera é visada pelos ladrões de carga pelo fato de ser um dos corredores financeiros do Brasil, interligando cidades importantes como São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e Franca. Além disso, possui estradas secundárias, usadas pelos criminosos para a fuga.
Vítimas das quadrilhas de criminosos que atacam nas estradas paulistas relataram momentos de tensão durante os ataques. Em março deste ano, um motorista que não quis ter o nome divulgado chegou a ser perseguido por criminosos e fechado no Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Obrigado a parar no acostamento, foi abordado por uma quadrilha e assaltado. “Os criminosos saíram armados, apontaram a arma em minha direção e me pegaram. Durante o tempo em que fui mantido refém, ouvi intimidações e ameaças de morte, mas nenhum objeto meu foi levado. Eles só queriam mesmo as mercadorias dentro do veículo”, disse.
Percentualmente, o Rodoanel foi a rodovia que teve maior crescimento de roubos entre as demais estradas. De janeiro a junho de 2010, o número de casos foi de 14; neste ano, no mesmo período, foram 25 – aumento de 11 registros ou 78,6%.
Comparativamente, no mesmo período de 2010, a rodovia com mais crimes, segundo o sindicato, havia sido a Régis Bittencourt, com 155 roubos, seguida pela Via Dutra (116) e Anhanguera (84). A mudança do ano passado em relação a este ano se deve ao critério adotado para compilar os dados.
“O que mudou foi realmente o critério de registro dos roubos. Dessa vez, os saques foram diferenciados, o que não ocorria até o ano passado. Na Régis, por exemplo, há saques nos congestionamentos e tombamentos. Nesse caso, dos roubos de carga, a maioria foi por causa de saques, e não assaltos à mão armada. Por isso houve essa mudança”, disse Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança do Setcesp e coronel da reserva do Exército.
Tipos de carga
Produtos alimentícios são o tipo de carga mais roubada. Dos 3.345 casos de assaltos a veículos de transporte de carga registrados pelo Setcesp nos seis primeiros meses de 2011, 834 eram de alimentos. Esse tipo de carregamento foi também o mais visado pelas quadrilhas no mesmo período do ano passado (912 dos 3.477 crimes registrados no período em todo o estado).
Apesar de os produtos alimentícios terem sido mais roubados de janeiro a junho deste ano, o tipo de carga roubada que teve maior crescimento percentual foi o de eletroeletrônicos. No primeiro semestre de 2010, foram 431 roubos desse tipo de produto. Já no mesmo período de 2011, 574 ocorrências foram registradas, o que dá um aumento de 143 casos, ou 33,2%.
Em valores, eletroeletrônicos representam mais de um terço do prejuízo causado pelos ladrões. O roubo de carga causou perda de R$ 148 milhões a empresas apenas nos seis primeiros meses. Desse total, mais de R$ 51,3 milhões eram produtos eletroeletrônicos.
Caminhoneiros também relataram ter sido abordados pelos assaltantes durante a noite, quando costumam parar em postos de combustíveis para descansar. Os criminosos cercam o caminhão, batem na porta do veículo e rendem o condutor.
Escolta armada
Uma das medidas utilizadas por empresas que atuam em regiões de risco é a utilização de escolta armada. Os entregadores saem com um carro extra que os acompanha para proteger e evitar os assaltos.
Em junho deste ano, a transportadora onde trabalha o gerente Felipe Cunha pediu escolta por conta do alto valor da carga e da maior visibilidade que ela tinha. “Tínhamos uma entrega lá na Brasilândia [Zona Norte de São Paulo] com uma carga bastante visada: televisão, notebook e vários eletrônicos. Aí, tivemos que usar a escolta”, disse Felipe.
Ele relatou que já houve casos em que os assaltantes abriram os pacotes e levaram somente aquilo que lhes interessava, na maior parte, eletrônicos. Segundo o entregador, os assaltantes não querem roubar os pertences dos entregadores. O foco deles é a mercadoria dentro dos veículos. Após o assalto, os automóveis são abandonados ou até mesmo devolvidos. O motorista que foi escoltado disse que a experiência foi “positiva”. “Foi boa, me senti seguro. Sem isso, é complicado ir para lá”, afirmou o homem, que pediu para não ser identificado.
Polícias
Segundo as polícias, o número elevado de roubos nas rodovias se deve ao fato de as estradas terem tráfego intenso de cargas. O delegado Waldomiro Milanesi, coordenador do programa Pró-carga, que visa a prevenção e redução de furtos, roubos e apropriação indébita de cargas, o raio de ação das quadrilhas geralmente não ultrapassa a distância de 150 km da capital.
“As pessoas precisam ter um respaldo, toda uma logística para desmontar o equipamento [bloqueadores de sinal de rastreadores], tirar a mercadoria e já imediatamente locar o espaço onde a receptação será feita. Isso ocorre por causa de grande concentração de mercadorias circulando e até de distribuição nesta região”, disse o policial.
Para combater esse tipo de crime, as forças policiais têm equipes especializadas em abordagem de cargas roubadas. “Elas equivalem à Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar] da capital. Têm um armamento mais pesado para lidar com esse tipo de quadrilha”, disse o capitão da Polícia Militar Robinson Pomilio, comandante da 1ª Cia do 4º Batalhão de Policiamento Rodoviário. O oficial acrescentou que o reforço ao combate ao crime deu resultados, com maior número de apreensões nas estradas estaduais.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal em São Paulo, responsável pelo patrulhamento em vias federais como a Régis e a Via Dutra, há diariamente um combate intenso aos roubos de carga. “Mas é necessário também uma conscientização do motorista”, disse o inspetor Edson Varanda, chefe da comunicação social da PRF em São Paulo.
O policial recomendou aos caminhoneiros que evitem dar carona e parem apenas em locais seguros, como postos de combustíveis movimentados e com segurança. “A maior parte dos roubos acontece quando o veículo está parado. O bandido depende de uma logística muito grande para fazer uma abordagem em movimento.”
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