Agenda ESG: Conheça as oportunidades de negócios ‘verdes’ que devem crescer em 2024
Compartilhe

Nem só de riscos vive a agenda ESG (sigla em inglês para se referir a questões ambientais, sociais e de governança corporativa). Há também um leque de oportunidades que as companhias brasileiras devem se deparar em 2024 e que podem gerar valor.

Os incentivos vindos do governo são benéficos para destravar o potencial do Brasil na economia verde, avalia Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e ESG e CSO para a América Latina na consultoria EY.

“Começamos a ver que o governo federal deu sinais de aproximação com o setor produtivo. O plano de neoindustrialização traz temas fundamentais para o setor produtivo, enquanto o Brasil avança na legislação do mercado de carbono, que também dá oportunidade única para o país avançar no plano de bioeconomia”, comenta. Só o recém-anunciado plano Nova Indústria Brasil (NIB) destinará uma parte dos R$ 300 bilhões em investimentos para a descarbonização do setor industrial. Soma-se à lista o Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda e o Programa do Combustível do Futuro que visa impulsionar os biocombustíveis – uma fortaleza do país.

Assumpção lembra, porém, que ainda é preciso ver se virá uma política de impostos para setores da economia verde. “Historicamente um país precisa de incentivos fiscais para desenvolver setores”, diz, e cita o caso da isenção de impostos para carros elétricos nos Estados Unidos.

A criação de um arcabouço regulatório para o mercado de carbono também se espera que acelere a agenda de descarbonização ao obrigar vários setores a reduzir suas emissões e movimente o mercado de0020soluções baseadas na natureza e crédito de carbono voluntário, ao correrem atrás de maneiras de compensar os excessos.

“A pauta do carbono é uma tendência global – vemos na China, Europa e na Califórnia [EUA]. O Brasil tende a acompanhar”, comenta Fernanda Claudino, também conselheira do CDP e membro do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS). Ela ressalva que, apesar de a agenda do gás carbônico ser muito relevante, também é necessário considerar os outros gases que compõem a cesta dos GEEs, como o metano, por exemplo, bem mais poluente que o CO2. “Temos de olhar a agenda de GEE como um todo ao pensar na transição energética para recursos renováveis, economia circular, ciclo de vida de produtos e outros”, reitera.

Uma tendência que ela destaca neste mercado é o de remoção de gases de efeito estufa da atmosfera. “Seja pelo plantio de árvores ou tecnologias de captura e armazenamento de carbono, dentro do desafio de redução de emissões imposto pelo Acordo de Paris até 2050, será necessário ter essa capacidade de remover carbono para neutralizar as emissões”, diz a advogada Caroline Prolo, cofundadora da organização LACLIMA e líder de Engajamento Climático na gestora de investimentos Fama Re.capital. Tecnologias precisam ser criadas para ajudar setores cimento e siderurgia, que praticamente estagnaram no que está a seu alcance fazer.

As soluções baseados na natureza, como geração de créditos de carbono por meio de combate ao desmatamento, práticas de integração da pecuária, lavoura e floresta e agricultura regenerativa, assim como projetos mais complexos de restauração de fauna e flora nativa em biomas são também tendências e oportunidades de negócios no Brasil.

“Existe ainda a possibilidade de desenvolver novas cadeias de valor no contexto da bioeconomia, a exemplo da economia amazônica dos frutos e castanhas, e do desenvolvimento da área de biocombustíveis”, pontua Ricardo Politi, presidente no Brasil e líder de Investimento Global da organização internacional Amazon Investor Coalition. Ele também cita a concessão de terras para reflorestamento. Em dezembro passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciou R$ 1 bilhão este ano no âmbito do programa Arco de Restauração. O objetivo é retirar da atmosfera 1,65 bilhão de toneladas de carbono até 2030.

“A floresta pode gerar renda com crédito de carbono mais valiosos do que os REDD+, de emissão evitada. Os créditos de restauração tem um impacto ambiental e social maior, uma vez que muitos também estimulam a bioeconomia local”, explica Politi.

Em um contexto de pressão por descarbonização, o Brasil é um dos países no mundo com mais oportunidades de se diferenciar. Por ter uma matriz energética majoritariamente renovável, produtos industriais feitos em plantas que se valem de energia limpa têm uma pegada de carbono menor e podem se destacar em um cenário em que o carbono é precificado. Além disso, a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) estima que o Brasil utiliza cerca de 2% de seu potencial de produção de biogás.

Dentre os principais desafios para o Brasil destravar seu potencial estão investimentos maiores em tecnologias e centros de pesquisa com foco em descarbonização, a intensificação das práticas de economia circular, o incentivo a um agronegócio sustentável e a escalabilidade dos projetos de bioeconomia, ainda muito ligados à agricultura familiar.

“Empresas que operam no ecossistema amazônico, por exemplo, precisam compreender os desafios locais e as oportunidades na bioeconomia inclusiva”, diz Vanessa Pinsky, especialista em Sustentabilidade. “A escala das operações é quase sempre experimentos locais. Precisamos do engajamento dos conselheiros de administração e executivos na agenda de negócios sustentáveis na Amazônia.”

Ela acredita no desenvolvimento de um novo ecossistema de negócios, que concilie a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico, e de soluções baseadas na natureza que tenham uma visão integrada que considera pessoas, infraestrutura, ordenamento territorial e soluções sustentáveis para problemas complexos e sistêmicos. Isso, sem deixar de gerar renda e emprego para as populações locais. “São novos modelos de negócios que compreendem os riscos e o ‘custo Amazônia’ para operar, baseados em oportunidades econômicas e de crescimento a longo prazo”, diz.

A aplicação de métricas e acompanhamento de indicadores de impacto e resultados financeiros das atividades produtivas na bioeconomia amazônica são fundamentais para o planejamento de ações integradas e para o fomento de negócios com visão de longo prazo na região, na opinião de Pinsky.


voltar