Na visão de especialistas, a falta de planejamento e de projetos estratégicos cria gargalos históricos que prejudicam as empresas
Mesmo concentrando 52% da produção industrial do país, a região Sudeste ainda enfrenta entraves significativos para escoar sua carga e sustentar o ritmo de crescimento econômico. Na avaliação de especialistas, apesar de a região contar com a melhor infraestrutura logística do país, problemas estruturais, falta de planejamento e atrasos históricos em projetos estratégicos continuam criando gargalos que afetam diretamente a competitividade das empresas.
“A logística do Sudeste hoje opera muito próxima ao limite da sua capacidade. Quando analisamos os fluxos entre Estados, como o transporte de Minas para o Rio ou a descida de cargas de São Paulo para Santos, o que se observa é um cenário de rodovias saturadas, conservação irregular e poucas alternativas ferroviárias. Isso encarece o frete, reduz a previsibilidade e afeta diretamente a competitividade da região”, afirma Omar Jarouche, CRO da Inventa, empresa de logística B2B com sede em São Paulo.
O Porto de Santos é visto como um ponto crítico. “Acho que esse é o gargalo mais clássico, existe há décadas. A descida da serra é um funil, fazendo com que os caminhões demorem horas para percorrer um trecho pequeno, de cerca de 30 km”, afirma Marcelo Rodrigues, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesp). Segundo o executivo, as restrições de horário e do tamanho dos veículos torna a descida ainda mais demorada.
A expectativa é que parte do problema seja resolvido com a construção da terceira pista da Imigrantes. O projeto foi leiloado pelo governo paulista em novembro e com entrega prevista para 2031. O projeto deve ampliar em 25% a capacidade total do sistema e dobrar o acesso de caminhões ao porto, informa a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.
O acesso a Santos leva a outro problema: o esgotamento da capacidade dos terminais de contêineres. O último terminal novo do Sudeste foi inaugurado em 2013, mas a movimentação cresceu mais de 60% desde então. Com todos os terminais operando acima de 80% – limite considerado mundialmente como sinal de saturação -, o resultado foi um colapso logístico no final de 2023. Em setembro deste ano, 75% dos navios que atracaram apresentaram alterações nos prazos previstos, com média de seis dias de atraso, segundo levantamento feito pela startup ElloX. Digital com base em dados operacionais dos terminais BTP, Santos Brasil e DP World.
Quando ele ficar pronto, [o Tecon 10] já não será suficiente para dar conta da demanda” — Wagner Cardoso
A demora na licitação do Tecon Santos 10, projetado para ser o maior terminal de contêineres da América Latina, reforça o problema. O projeto está parado há cinco anos no Tribunal de Contas da União, com sucessivas mudanças de orientação da autoridade portuária. “O Tecon Santos 10 é uma catástrofe anunciada. Quando ele ficar pronto, já não será suficiente para dar conta da demanda”, afirma Wagner Cardoso, secretário-executivo do Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Outro ponto levantado pela CNI é o impacto da mobilidade urbana no transporte de cargas. A passagem de caminhões por grandes centros gera atrasos, perdas de produtividade e sobrecarga nas periferias das grandes cidades. A conclusão do trecho norte do Rodoanel em São Paulo, a construção do Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte e do Ferroanel de São Paulo são algumas das soluções consideradas essenciais tanto para o escoamento industrial quanto para a melhoria da mobilidade urbana e da qualidade de vida da população.
Segundo a CNI, são infraestruturas com impacto direto no setor produtivo, e por isso aparecem entre as prioridades mapeadas no panorama que a entidade traçou para a região.
Mas o maior problema, afirma a confederação, é que a indústria depende majoritariamente do caminhão para deslocamentos que deveriam ser feitos por ferrovia, hidrovia ou cabotagem. Enquanto ferrovias não saem do papel e portos operam sobrecarregados, o Sudeste segue apoiando sua competitividade em uma malha rodoviária extensa, cara e cada vez mais pressionada. A urgência por expansão e modernização permanece – e o tempo de resposta precisa deixar de ser medido em décadas.
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