Principal economia do país, São Paulo teve um desempenho do setor de serviços na contramão da média brasileira em 2023. Enquanto no país o setor avançou 2,3% no ano passado, em São Paulo – que responde por quase metade do cálculo – teve queda de 1,8%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São Paulo foi uma das duas únicas unidades da federação – ao lado do Amapá – com retração no setor em 2023: todas as demais registraram ganho no volume de serviços. A retração de São Paulo ocorre também após dois anos seguidos de alta – 11,6% em 2021 e 9,7% em 2022.
Inflação de serviços acima da média nacional ao lado de um crescimento econômico menor que no país, além de base elevada de comparação do setor de transportes e retomada dos serviços financeiros auxiliares à normalidade – como bolsas de valores, corretoras e bancos de investimentos -, são algumas das razões apontadas por especialistas para explicar a diferença de desempenho em São Paulo frente ao resto do país.
“A inflação do setor em São Paulo foi mais alta que no Brasil. Um reajuste dessa magnitude não consegue ser acompanhado pela maioria das famílias e isso implica realocação de consumo para bens ou para poupança. Isso também afeta as empresas”, afirma o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fabio Bentes.
Pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), a inflação de serviços foi de 4,1% no país e de 5,2% em São Paulo, segundo seu cálculo, feito a partir da diferença entre a variação da receita nominal e do volume. A inflação de serviços no âmbito da PMS, explica, inclui um conjunto menor de serviços que no cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Bentes também acredita em impacto da atividade econômica, já que o crescimento foi menor que em São Paulo que na média nacional. Pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), houve alta de 1,4% em São Paulo e de 2,4% no Brasil, considerando o resultado de 2023 até novembro – para o qual há números regionais.
O coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, também acredita em possível impacto da inflação nesta queda do volume de serviços em São Paulo. “O aumento dos custos dos serviços pode inibir a demanda, as pessoas podem sinalizar que não estão dispostas a consumir o mesmo volume de serviços, mesmo que haja renda disponível. Isso talvez tenha ficado mais claro no caso de São Paulo”, diz ele, que cita o caso das passagens aéreas, cujas empresas são baseadas em São Paulo.
Economista da LCA Consultores, Daniel Arruda concorda com avaliação de influência da inflação no desempenho dessas atividades, mas argumenta que este é um setor heterogêneo e a análise por segmento permite uma visão mais clara do que ocorre.
Nesse sentido, menciona o perfil do crescimento de transportes – segmento de maior peso no país e segundo no caso de São Paulo. Grande parte da expansão em 2023 foi ligada à safra recorde de grãos, tanto pelo deslocamento de insumos quanto o escoamento da produção.
“A produção agrícola influenciou muito a receita das empresas de transportes em Estados com produção relevante. Em São Paulo, a cana-de-açúcar cresceu, mas o Estado talvez não tenha se beneficiado desse impulso que ajudou o Brasil”, diz Arruda.
O desempenho mais fraco tanto da indústria de transformação e do comércio em São Paulo, frente ao observado na média nacional, também pode ter afetado a logística do transporte das mercadorias, nota.
No caso dos transportes, o gerente da PMS, Rodrigo Lobo, cita uma base de comparação elevada em São Paulo por causa de dois anos seguidos de crescimento em dois dígitos: 13% em 2021 e 16,3% em 2022. E confirma a análise sobre a influência da produção agrícola. “No Brasil, o setor de transportes cresceu sustentado pelo transporte rodoviário de cargas, e muito pelo escoamento da produção agrícola, mais marcada pelo Centro-Oeste”, diz.
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