O vice-presidente de Vendas da Loggi e Coordenador de Logística do Conselho de Economia Digital e Inovação da Fecomércio, falou com a Revista SETCESP sobre o que temos avançado e quais são ainda os desafios, quando o assunto é logística
Sem a necessidade do DACT-e, do DAMDF-e, do DANDF-e e o comprovante de entrega serem impressos, o que mais ainda podemos eliminar de documentos em papel na logística?
A ideia do movimento é reduzir tanto o papel quanto a burocracia e, consequentemente, o impacto na cadeia logística e no setor público. Isso não se limita somente ao volume de documentos fiscais, que diminuiu, mas também à redução do desperdício de embalagens, tempo, espaço e recursos utilizados por conta de obrigações, que entendemos não serem mais aderentes às tecnologias disponíveis atualmente.
Como funcionam os processos de emissão e acompanhamento de documentos fiscais em outros países do mundo? Na sua opinião, o Brasil demora muito em avançar e aderir às novas tecnologias?
Durante o processo de descoberta e aprofundamento do Logística Sem Papel, vimos experiências positivas em lugares como na Europa e EUA, em que o transportador possui obrigações similares às do Brasil no âmbito fiscal, ou seja, o pagamento de tributos é cobrado, assim como obrigações acessórias, só que a diferença consiste no modelo adotado e nos pontos de verificação que existem durante a operação. Isso sim, é algo muito diferente por lá, onde as empresas conseguem operar sem qualquer fiscalização nas barreiras nacionais durante o processo e sem onerar nenhuma obrigação tributária ou fiscal.
Transporte é uma atividade que demanda a interligação de diversos órgãos por conta da complexidade no atendimento a um país do tamanho do Brasil. Este é um setor que depende de entidades federais, estaduais e municipais. Neste quesito, avalio que o Brasil e cada uma de suas esferas estejam abertos ao diálogo e propostas de melhoria, seja via incorporação de novas tecnologias ou simplificação dos serviços públicos. Em minha visão, o tema que agrega complexidade é a falta de alinhamento entre estes órgãos reguladores dos municípios e estados. Cada um deles possuem suas competências e históricos próprios, em que objetivos e caminhos não necessariamente convergem.
O excesso da burocracia onera muito os embarcadores, empreendedores e transportadores. Mas qual é o impacto para o consumidor final?
Todos os custos da operação fazem parte do preço final, que afeta diretamente os consumidores. Ou seja, não é só o custo da folha de papel, mas da hora dedicada do funcionário que preenchera tal documento e os equipamentos que ele utilizará, por exemplo.
Eles também lidam com a ineficiência do processo, principalmente no tempo de entrega da mercadoria, que poderia ser consideravelmente reduzido, além de riscos associados à segurança de dados em decorrência da exposição de informações nas mercadorias.
Como as empresas podem se mobilizar para que haja uma cadeia logística mais fluída no País?
Acredito que manter a união e alianças seja algo imprescindível para essa mobilização. É necessário externar objetivos e comprometer-se com uma pauta alinhada para acompanhar movimentos, que estejam acontecendo e que tenham impactos não só para um agente específico, mas sim para os setores econômicos e toda a sociedade.
Um aspecto importante é a paciência. Transformações relevantes levam tempo até que haja alinhamento, engajamento e, principalmente, defesa conjunta destas bandeiras.
Como exemplo, o Logística Sem Papel uniu entidades com públicos distintos, mas que compartilham de um objetivo de simplificar a cadeia. Desde a união dos diversos grupos como ABCOMM, Fecomercio, MID (Movimento Inovação Digital), SETCESP, Abralog e NTC&Logística, houve muitos avanços significativos
Ainda há processos tecnológicos que causam resistência. Alguns embarcadores ainda exigem o comprovante de entrega físico ou o canhoto da nota fiscal assinado, por exemplo. Como reverter esta situação?
Com a tecnologia que temos hoje, é amplamente possível a digitalização de documentos e disponibilização do acesso aos interessados, por meios eletrônicos. Nesse momento, é preciso trazer todos os clientes para a realidade da operação. Isso inclui as dificuldades de entrega, restrições fiscais promovidas por órgãos reguladores e todos os percalços que cercam a logística.
Simultaneamente, também devemos apresentar os benefícios que envolvem esse novo processo, isso inclui: maior agilidade no compartilhamento de informações, o enriquecimento da base de dados, que traz possibilidades como mapas mais atualizados, entre outros facilitadores, que não são possíveis somente no papel. Vale mencionar também que a justiça brasileira já está pacificada no reconhecimento do comprovante digital.
A gente ouve comentários de consumidores que relatam que um produto demora mais para chegar de um estado a outro do País, do que quando vem de fora do Brasil. Existe mesmo uma dificuldade maior no trânsito interestadual?
Existe a oportunidade de melhorar o trânsito interno de mercadorias para garantir mais velocidade e assertividade na entrega à população brasileira. Ações como digitalização total dos serviços, acompanhamento desde a origem de maneira automatizada e mecanismos simples de verificação de eventuais desvios, são possibilidades que permitem reduzir o tempo de trajeto.
Gostaria de deixar alguma mensagem final para os empresários do setor de transporte?
Sim, quando o assunto é logística, sempre considero como simplificar a operação e torná-la mais rápida, eficiente ou os dois. Na maioria dos casos, é algo que pode ser feito de maneira independente, sem interferir em mudanças no contexto de mercado e livre da necessidade de alterações no ambiente de negócio. Para estes temas, o objetivo é tornar o que for possível digital, pois evita controle físico, processos duplicados e mantém armazenamento e disponibilidade.
Já para assuntos que demandam mudanças no ambiente de negócio, é importante entender que há um tempo para que isso aconteça, e que a complexidade de se operar em distintas esferas é alta, e precisa de regulamentações constantes.
Considerando que estamos em um momento de mudanças aceleradas em modelos de negócios, inovações tecnológicas e incertezas econômicas, assegurar que haja o envolvimento ativo e uma voz dos agentes privados é essencial, para que o ambiente de negócio seja aderente e fluído.
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