Preços médios do frete começam a recuar
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Depois de um ano apenas razoável, quando o avanço dos volumes transportados foi praticamente anulado pela escalada dos custos, o setor de transporte de cargas espera alguma melhora nos resultados de 2023. Esta expectativa está condicionada à estabilidade nos preços do diesel e ainda à recomposição dos preços cobrados pelo frete, desde que os volumes transportados também se mantenham estáveis. Para Lauro Valdivia, assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), o setor ainda não conseguiu repassar toda a alta experimentada pelos custos nos últimos meses.

Sob efeito da política de juros altos, o transporte de cargas rodoviárias iniciou 2023 com marcas inferiores ao que se esperava inicialmente, registra Federico Vega, CEO da Fretebras, maior plataforma on-line de transporte de cargas da América Latina. Os números de janeiro vieram 5% abaixo do previsto para o mês e a movimentação, 10% menor do que a estimativa em fevereiro. “Talvez possamos ver a atividade reaquecer quando a taxa básica de juros começar a ser reduzida, a partir do segundo semestre”, comenta.

A tendência parece afetar mais diretamente o segmento de cargas industrializadas e também o setor de construção. Com capital de giro mais caro para as empresas de transporte e a economia esfriando, as margens serão comprimidas, gerando problemas para pagar os custos fixos. “Corre-se o risco de se enfrentar uma crise de crédito”, afirma. Para fugir dos bancos e escapar do crédito mais caro, empresas têm postergado pagamentos, com efeitos em cadeia sobre o setor, afetando até os caminhoneiros.

Em 18 meses, o diesel chegou a subir 107%”, completa Valdivia. Nos dados da NTC&Logística, em 12 meses do ano passado, o Índice Nacional de Custos do Transporte de Carga Lotação (INCTL) e o Índice Nacional de Custos do Transporte de Carga Fracionada (INCTF) experimentaram variações de 17,01% e de 10,6%, respectivamente, acumulando saltos de 59,1% e de 42,8% em 36 meses. A tendência de estabilidade para os volumes de carga transportados neste ano, prossegue Valdivia, refere-se ao comportamento médio esperado para todo o setor, surgindo diferenças entre os diversos segmentos. O setor de grãos deve observar resultados mais positivos, diante da perspectiva de mais uma safra histórica, na faixa de 309,9 milhões de toneladas, praticamente 37,5 milhões de toneladas a mais do que no ciclo 2021/22.

Com isso, caminhoneiros que trabalham no transporte de cargas do agronegócio devem fechar o ano com “mais dinheiro no bolso”, acredita Vega. Ele lembra que o aumento do frete agrícola no ano passado simplesmente tentou cobrir o salto nos preços do diesel.

O preço médio por tonelada de grão transportada a partir de Mato Grosso, em 2022, havia aumentado em média perto de 34% entre 2021 e 2022, passando de R$ 160 para R$ 214. A correção foi consumida pelo salto de 45% nos preços médios do diesel no período, saindo de R$ 4,58 para R$ 6,59 por litro. Segundo Vega, o diesel tende a se manter estável neste ano, embora o frete agrícola deva experimentar alta, em consequência de uma demanda maior por caminhões no setor, o que representaria resultados melhores para os caminhoneiros.

Considerando todos os tipos de carga e dados médios apurados com base em oito milhões de transações anuais de frete e vale-pedágio administradas pela Repom, linha de negócios de frota e mobilidade da Edenred Brasil, o preço médio do frete por km rodado aumentou 38,91% em 2022, quando comparado a 2021, atingindo R$ 7,14. Segundo Vinicios Fernandes, diretor da Repom, entre janeiro e julho de 2022, quando alcançou seu maior nível no ano, chegando a R$ 8,04, o custo do frete acumulou aumento de 45%. Mas recuou 7,6% até dezembro, fechando o mês em R$ 7,43. Os aumentos foram mais pesados nos setores de aço, produtos de metal e cimento, com salto de 82% ante a 2021, saindo de R$ 1,72 para R$ 3,13 por km rodado. Na sequência, o frete no agronegócio subiu 58% no mesmo intervalo.

Na média geral, até o momento, há uma sinalização de queda gradual para o frete ao longo deste ano. Isso considerando-se a prorrogação da desoneração de tributos federais sobre o combustível por mais um ano e a expectativa de novas reduções na tabela do piso mínimo do frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Mesmo assim, quando comparado o início de 2023 a janeiro de 2022, o preço médio do frete por km rodado aumentou 28% e o valor médio deve permanecer mais elevado em relação aos anos anteriores”, assinala Fernandes.

Como relembra Douglas Pina, diretor-geral de mobilidade da Edenred Brasil, a Lei nº 14.445/2022 determina a correção do piso mínimo sempre que o valor do diesel apresente variações superiores a 5%, para cima ou para baixo. No ano passado, entre janeiro e julho, os preços médios mensais do diesel comum e do S-10 subiram mais de 35%, passando a recuar desde então, de acordo com levantamento realizado nos 21 mil postos credenciados à Ticket Log.

Em março deste ano, num dado ainda preliminar, referente às duas primeiras semanas do mês, o preço registrou baixa entre 18,5% e 18,7% em relação a julho do ano passado. Ainda assim, fatores externos e domésticos tornam “difícil cravar uma projeção exata para os próximos meses”, complementa Pina. Os custos muito voláteis do frete rodoviário, comenta Paulo Dantas, advogado especializado em direito administrativo do escritório Castro Barros, adicionam insegurança ao setor e seu aumento excessivo poderá estimular a busca de alternativas de transporte mais econômicas, a exemplo da cabotagem, que já desperta a atenção de grandes grupos. A transição entre os modais, prossegue ele, não deve ocorrer tão rapidamente, mas Dantas prenuncia uma “disputa interessante” para os próximos cinco a dez anos, envolvendo empresas que movimentam grandes volumes.

Num movimento relativamente recente, Dantas observa uma tendência de consolidação da operação logística por parte das grandes empresas de transporte. “Essas empresas começam a olhar para o sistema de logística como um todo”, sublinha. E, literalmente, aquelas empresas têm ido às compras. Num lance mais recente, a JSL, uma das maiores do país no setor logístico, anunciou, no início de março, a aquisição por R$ 587 milhões da IC Transportes, empresa familiar, com frota de 4,2 mil veículos, que opera no setor de cargas a granel e de fertilizantes.

Desde 2020, quando estreou na B3, a JSL realizou pelo menos mais nove aquisições – Fadel, TransMoreno, Pronto Express, Rodomex, Lubiani, Schio, Marvel, Rodomeu e a TruckPad, plataforma de intermediação de fretes. No fim de 2021, a Log-In investiu perto de R$ 102,8 milhões na compra da Tecmar, que atua no segmento de transporte rodoviário de carga, com o objetivo de expandir o modelo intermodal adotado pela operadora e reforçar seu portfólio de soluções logísticas.

O processo de disrupção detonado pela pandemia nas cadeias globais de suprimento, com fechamento de portos ao redor do mundo, escassez e disparada nos custos de contêineres, entre outros efeitos, trouxe também uma revisão da estratégia de estoques das empresas, que passaram a migrar de sistemas “just in time” para “just in case”, na descrição de Helmuth Hofstatter, CEO da LogComex. “As empresas passaram a manter parte dos estoques críticos em regiões mais próximas. Para lidar com um volume maior de informações, criamos uma ferramenta que fornece às empresas dados consolidados e de forma transparente sobre mercados de exportação e importação, além de ajudar a encontrar fornecedores”, detalha ele.

Em parte, a mudança na gestão dos estoques decorreu do forte encarecimento dos contêineres de 20 pés, que chegaram a saltar de US$ 800 antes da crise sanitária para praticamente US$ 20 mil no auge da crise, considerando a rota entre os portos de Santos e Xangai. Atualmente, aqueles preços se acomodaram ao redor de US$ 1,8 mil a US$ 1,9 mil, ainda mais de duas vezes acima dos níveis pré-pandemia, respondendo a um maior equilíbrio entre oferta e demanda no comércio global e a uma normalização das rotas globais, na visão de Hofstatter. A expectativa de uma desaceleração na economia mundial neste ano, com riscos de recessão no horizonte, diz ele, deve esfriar o comércio e manter os preços estabilizados nos
níveis atuais.

Instalada desde 2017 em Curitiba e empregando 320 pessoas, das quais 40 no escritório de São Paulo, a LogComex surgiu como startup em Paranaguá, em 2016. A plataforma, de acordo com Hofstatter, “ajuda empresas fornecendo inteligência para a tomada de decisões sobre melhores rotas, no planejamento da operação logística e ainda no comércio internacional”.


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