Segundo Instituto Paulista de Transporte de Cargas (IPTC), as mulheres representam 24% no quadro geral de colaboradores, 32% nos cargos de alta liderança e apenas 1% na função de motoristas das operações. Para ampliar a participação feminina no setor, foi criado o Movimento Vez e Voz do Sindicato das Empresas de
Transporte de Carga de São Paulo e Região (SETCESP)
Transporte Moderno – O transporte rodoviário de cargas ainda é um setor essencialmente masculino ou esse cenário tem mudado nos últimos anos?
Ana Jarrouge – O cenário vem mudando, e isto é perceptível para nós que estamos acompanhando tanto as empresas como as entidades de classe que representam o setor. Muitas mulheres estão “aparecendo” como grandes líderes empresariais, à frente de suas empresas, e muitas oportunidades de trabalho também têm sido abertas, especialmente para o cargo de motorista profissional, no qual os resultados operacionais demonstram que as mulheres são uma excelente mão de obra para nosso segmento.
Transporte Moderno – Como surgiu o Movimento Vez e Voz?
Ana Jarrouge – O Movimento decorre de uma observação da minha trajetória profissional, onde desde os meus 16 anos atuo no segmento e percebo que as mulheres são minoria no transporte, exceto nas áreas administrativas das transportadoras. Quando comecei a participar ativamente das entidades de classe e coordenei um grupo de jovens empresários em nível nacional, minha percepção aumentou e senti que tínhamos que fazer algo. Foi quando comecei a participar de um grupo chamado IT – Influenciadores do Transporte e durante algumas das reuniões com a equipe que me assessora surgiu a ideia de fazer um movimento de valorização das mulheres no transporte rodoviário de cargas. E exatamente neste momento eu estava sendo contratada pelo Setcesp e foi o casamento perfeito, porque desenvolver o movimento através de uma entidade relevante como o Setcesp facilitaria muito. Foi quando apresentei o projeto internamente e depois para nosso conselho de administração, no qual a iniciativa foi prontamente aprovada. Isso ocorreu no início de 2020.
Transporte Moderno – Que ações o movimento tem promovido para que a participação das mulheres aumente no setor?
Ana Jarrouge – Desde o lançamento, em outubro de 2020, fizemos diversas entrevistas, um site exclusivo, inúmeras lives com temas diversos que orbitam o universo feminino, temos um Manifesto do Movimento e firmamos diversas parcerias importantes, para nos ajudar a divulgar o movimento. E, finalmente, em março de 2022 tivemos nosso primeiro encontro presencial, no mês da mulher, o qual foi um sucesso e certamente nos deu muito incentivo e força para seguir em frente, em razão do engajamento que obtivemos. Novas parcerias estão sendo desenvolvidas, algumas ações diferenciadas e daremos início aos grupos de trabalho.
Transporte Moderno – Quais as maiores dificuldades para a mulher que deseja trabalhar neste setor?
Ana Jarrouge – Acho que a maior dificuldade está no setor operacional, pela falta de experiência, razão pela qual temos objetivo no Movimento de conscientizar as empresas de que é preciso não apenas contratar, mas ajudar na formação destas mulheres que desejam entrar para o transporte. E tem dado certo, porque muitas empresas já contratam sem experiência e ajudam na formação internamente, ou mesmo com parcerias externas, como a FABET que agora tem cursos exclusivos para elas. Além disso, acredito que seja também um desafio para as mulheres motoristas, as condições sanitárias nas estradas e em alguns locais de carga e descarga de mercadorias, aliás este fato não é privilégio delas, mas de toda categoria, lamentavelmente, mas que estamos fazendo também nosso papel de conscientização neste sentido e falando a respeito em todas as oportunidades.
Transporte Moderno – Quais as vantagens para as empresas de transporte rodoviário de cargas em incluir mais mulheres em seus quadros?
Ana Jarrouge – Acredito que as vantagens são inúmeras, a pergunta deve ser ao contrário, por que não? Por que não conhecer um talento? Hoje em dia, as empresas não podem se dar ao luxo de desperdiçar nenhum bom profissional, seja homem ou mulher. Na busca da eficiência e produtividade devemos ter opções. E ainda, é preciso ter equipe diversa, senão nenhuma empresa crescerá e se sustentará no mundo atual, que é diverso e tem clientes diversos. A geração de criatividade está diretamente associada à diversidade, então, ao meu ver, deixar de considerar quem quer que seja como uma opção é um grande equívoco que o empresário pode estar cometendo. Não se desperdiça talentos. Se atrai e se retém.
Transporte Moderno – Como as empresas podem ser mais inclusivas?
Ana Jarrouge – Abrindo espaços para todos. Mas não só contratando, há que se ter políticas internas inclusivas, com palestras de conscientização, espaços adequados para todos, treinamentos constantes, liderança preparada, para que as pessoas se sintam efetivamente parte da equipe, sintam que podem colaborar, serem ouvidas, serem percebidas, serem reconhecidas, enfim, tenham Vez e Voz.
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