Segundo a Confederação Nacional da Indústria, a deterioração das expectativas ocorre em um ambiente de inflação em desaceleração, mas ainda pressionada por juros elevados e incerteza fiscal
Mesmo com um aumento na produção na virada de setembro para outubro (de 50,1 para 51,5 pontos), a indústria chega ao fim do ano com perda de fôlego no emprego e nas exportações. De acordo com a Sondagem Industrial divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta segunda-feira (24), a expectativa de demanda por produtos industriais recuou para 51,3 pontos em novembro, o pior resultado para o período desde 2016.
A deterioração das expectativas ocorre em um ambiente de inflação em desaceleração, mas ainda pressionada por juros elevados e incerteza fiscal. Para Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, esse contexto limita o apetite das empresas.
“A expectativa ainda é de crescimento, já que [o indicador de demanda] está acima da linha de 50 pontos, mas é muito restrita para essa época do ano. A taxa de juros alta vem minando a demanda e reduzindo a atividade como um todo”, afirma.
Segundo ele, o aumento da produção aliado à queda na demanda pode levar a um acúmulo de estoque no longo prazo, o que representa um risco para as empresas diante de um ambiente de juros altos. Em outubro, no entanto, os estoques seguem mais próximos ao nível planejado, chegando a 50,3 pontos, após registrar 50,8 em setembro.
A utilização da capacidade instalada (UCI) subiu de 70% para 71% em outubro, mas permanece abaixo dos níveis de igual período de 2024 (74%). Azevedo atribui a ociosidade à queda na demanda.
Efeito do tarifaço
As expectativas de exportações continuam negativas pelo quarto mês consecutivo, em 48 pontos, refletindo a perda de fôlego da demanda externa provocada, principalmente, pelas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos ao Brasil. Apesar do anúncio do presidente Donald Trump, na quinta-feira (20), de revogação da tarifa adicional de 40% para uma lista de produtos brasileiros, os manufaturados, principal categoria exportada pela indústria, continuam sujeitos à sobretaxa.
A quantidade exportada também recuou para 48 pontos, permanecendo abaixo da linha de 50 pelo quarto mês consecutivo.
Azevedo ressalta que, com o mercado americano menos acessível, o fluxo comercial internacional vem se reorganizando. “Parte do que era vendido aos EUA tem sido redirecionado ao Brasil. Como a demanda interna está mais fraca, nosso mercado virou destino preferencial de empresas estrangeiras”, aponta.
A expectativa de compra de matérias-primas e insumos também caiu, de 51 para 50 pontos. Com isso, a expectativa, que era de aumento das compras de insumos nos seis meses seguintes, passou a ser de estabilidade. Junto a esse índice, caiu a 49,1 pontos a expectativa de empregos na indústria, em queda há quatro meses consecutivos.
Mesmo com a queda em todas as expectativas em novembro, a intenção de investimento da indústria cresceu, passando de 54,8 pontos para 55,2 pontos. É a segunda alta consecutiva do índice no ano, marcado por uma tendência de queda após um pico em dezembro de 2024. Para Azevedo, o movimento reflete cautela, mas o aumento em alguns índices mostra também algum reposicionamento diante das perspectivas de redução dos juros em 2026.
Para esta edição da Sondagem Industrial, a CNI consultou 1.446 empresas: 603 de pequeno porte; 492 de médio porte; e 351 de grande porte, entre 3 e 12 de novembro de 2025.
voltar







































