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11 de Junho de 2018 – 15h06 horas / Hoje em Dia

Lata do lixo. Esse é o destino de quase mil toneladas de gêneros alimentícios que, todos os meses, chegam às Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A (Ceasa), mas não abastecem sacolões, supermercados e hipermercados de Belo Horizonte e Região Metropolitana (RMBH) porque perderam a característica comercial. Por ano, são comercializadas cerca de 2 milhões de toneladas.

 

O desperdício no agronegócio é um retrato do custo com logística no Brasil e afeta diversos setores. O transporte rodoviário de longa distância de matérias primas e colheitas, distribuição urbana nos pontos de venda e de mercadorias prontas para a comercialização, armazenagem, seguro e rastreamento de cargas são atividades do sistema logístico, que é parte do ciclo de todos os tipos de produtos. Sem o devido planejamento e adequação, provocam desperdício e aumento de custos.

 

Apenas essa despesa responde por 20% do faturamento do agronegócio, de acordo com o estudo Custos Logísticos no Brasil 2018, do Núcleo de Logística, Suppy Chain e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC), publicado em abril. Para administrar o gasto, o preço final da mercadoria fica mais alto para o consumidor final.

 

O estudo “Custos da Logística no Brasil 2018” é fruto de entrevistas com 130 empresas nacionais de diversos setores econômicos que faturaram, em 2017, 15,4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (excluindo-se o setor de Serviços). A pesquisa detectou que, entre 2014 e 2017, o peso médio da logística no faturamento das empresas entrevistadas passou de 11,52% para 12,37%. Esse incremento de 7,4% corresponde a um custo extra de R$ 20,7 bilhões, no período.

 

Além do agronegócio que gasta 1/5 do que fatura com a logística e da indústria de construção, com 18% de custos dos quais não pode se livrar, mineração (26,1%) e a indústria de papel e celulose (23,7%) também têm gastos muito superiores à média nacional.

 

Composição
Parte do custo logístico nacional é composta pelo transporte de longa distância (40,1%), distribuição urbana (23,4%) e armazenagem (17%). Como 75,9% das cargas nacionais circulam por rodovias, esse modal está no centro das discussões sobre as perdas, desperdícios e custos extras das empresas que embarcam suas produções pelo país afora. A avaliação dos modais rodoviário e ferroviário foram as piores por parte dos embarcadores de carga que participaram do estudo. Entre 1 a 5, as estradas ficaram com pontuação de 2,1 e os trens com 1,8.

 

Segundo o professor e pesquisador da FDC, Paulo Renato de Sousa, o estudo apontou que o resultado de tudo isso recai sobre os clientes. “Os entrevistados também têm enfrentado essa despesa com terceirização de frota e aumento dos prazos para entregas”, reafirmou.

 

O ministro Dyogo de Oliveira já admitiu falta de recursos para a infraestrutura no país, mas disse que, por isso, o governo incentiva parcerias com a iniciativa privada.

 

No prato
Enquanto a logística não melhora, a própria Ceasa encontrou um jeito de minimizar as perdas.

 

Das mil toneladas mensais de gêneros alimentícios inadequadas para venda, uma média de 110 é reaproveitada pelo Projeto de Distribuição de Alimentos (Prodal), do Instituto Ceasa Minas, que destina itens para 154 instituições assistenciais. Há, também, um processo de desidratação de legumes para a fórmula da Vita Sopa e produção de polpas de frutas que, como os outros itens, tem destino certo e gratuito.

 

Segundo o diretor de Relações Sociais da entidade, Flávio Câmpara, o galpão do projeto, no entreposto de Contagem, na RMBH, recolhe, todos os dias, cargas diversas de itens que, embora “feios”, amassados ou muito maduros, mantêm as propriedades nutricionais.

 

“Aqui na Ceasa, as perdas são de 50, 100 caixas. Quando vai chegar carga nova, os lojistas pedem para a gente ir buscar porque têm que desocupar o espaço”, exemplificou.

 

Frete tem reflexos até no valor final do imóvel

Entre 2014 e 2017, o Custo Unitário Básico de Construção (CUB/ m²) acumulou alta de 25,09%. Calculado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), ele é usado como mecanismo de reajuste de preços em contratos de compra e venda de apartamentos em construção e até como índice setorial.

 

Esse percentual significa que ficaram mais caros para o consumidor os imóveis vendidos no Estado. E isso ocorre levando em conta diversos fatores. Um deles, é o frete despendido no transporte dos insumos.

 

“Quando compramos os materiais, por exemplo, recebemos duas notas em uma. A primeira é do produto em si e a outra do frete correspondente, embora o preço do contrato seja fechado. Em alguns casos, o frete chega a ser maior que o preço do insumo”, explicou o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Linhares.

 

A regra, que vale para insumos primários como concreto, tijolo e aço, também pode ser aplicada para os acabamentos.

 

Como as compras são feitas direto na fábrica, o valor do serviço de transporte da mercadoria depende de fatores como distância a ser percorrida e prazo para entrega, dentre outros.

 

O economista e gerente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais, Renato Marques, ressaltou que o transporte das cargas é parte do custo logístico.

 

O valor do serviço não pode ser padronizado porque depende do tipo de produto, da rota/condição da estrada, do modal escolhido, do tamanho do caminhão e, também, do prazo para entrega.

 

“Temos que lembrar que, mesmo se o transporte for aéreo, tanto no embarque e no desembarque será preciso usar a rodovia para que o produto chegue ao seu destino”, destacou.

 

No país, o tabelamento, feito pelo governo federal em 30 de maio, provocou reação da indústria, que julgou-se penalizada, e dos caminhoneiros. O assunto é polêmico e deve ter um desfecho ainda nesta semana.

 

Preços mais altos por deficiência na infraestrutura
A coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), Aline Veloso, reconhece que, no caso do agronegócio, as diversas cadeias produtivas sofrem com perdas e desperdícios. “O prejuízo do produtor rural é grande, ao longo de toda a cadeia produtiva e, com a redução da oferta, os preços aumentam para o consumidor final”, afirmou.

 

Segundo a técnica, mais de 70% das cargas de produção do agronegócio passam pelas rodovias que, nem sempre, estão em boas condições para circulação de veículos pesados. Com isso, o escoamento fica mais lento e ainda há perdas nas quantidades dos grãos, devido à trepidação dos caminhões, principalmente nas longas distâncias.

 

A demanda do agronegó-cio pela melhoria da infraestrutura é uma reivindicação antiga do setor, segundo a coordenadora. Somando-se a isso, há falhas específicas do sistema logístico adotado pelos produtores, como acontece com as cargas de hortifrúti, que demandam condições especiais de temperatura no transporte e armazenamento, para se manterem em condição de venda no distribuidor. “Na greve dos caminhoneiros, a falta de caminhões refrigerados gerou muitos prejuízos e os preços dispararam”, lembrou.

 

O transporte de animais também requer certos cuidados, segundo Aline Veloso. Quando mal acondicionada, ou quando o trecho é longo, essa carga também pode ser machucada, o que deprecia o valor do produto vivo e, também, na hora do abate.


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