As dificuldades para o reajuste do frete na opinião de quem contrata
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Fomos saber na visão do embarcador quais os entraves para conceder margens de readequação ao preço do serviço de transporte

Luis Baldez ocupa há dez anos o cargo de presidente executivo da ANUT (Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga), uma entidade que integra empresas responsáveis por grande parte da carga transportada no país. Por telefone, ele conversou com a Revista SETCESP, para falar sobre os reajustes de preço na contratação do frete.

“Em primeiro lugar, a ANUT vê a logística como um fator fundamental para a viabilidade dos nossos negócios. Portanto, queremos que ela seja eficiente, que os transportadores tenham lucro dentro das margens adequadas com capacidade de investimento”, argumentou explicando, “uma vez que, se ele entrar em um processo de deterioração em suas finanças, não conseguirá avançar em uma prestação de serviço com eficiência. A gente precisa desmistificar que o dono da carga é adversário do transportador. Somos codependentes um do outro”.

De acordo um relatório da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) divulgado em fevereiro deste ano, em 2021 a defasagem média do valor do frete foi de 13,3%. Defasagem é o índice que considera o quanto o mercado paga e o quanto deveria custar o frete. Neste estudo, não se considera a margem de lucro, nem contempla impostos, apenas o custo operacional e o administrativo.

“É preciso lembrar que o ponto focal do momento para o transportador é o óleo diesel, pois a participação desse insumo no custo total do frete é muito grande. Nós embarcadores não temos influência sobre isso, visto que depende do preço internacional do petróleo. O que podemos fazer é que o contrato de transporte tenha o que chamamos de reajuste paramétrico”, indicou Baldez em tom conciliador.

No primeiro semestre do ano, os combustíveis já foram reajustados três vezes pela Petrobras. O repasse anunciado em maio foi de 8,9% para o diesel, sendo que no mês de março, a estatal havia aplicado um aumento de 24,9%. Com o último reajuste o preço médio do litro na refinaria passou de R$ 4,51 para R$ 4,91. Uma variação de R$0,40 por litro. A alta acumulada, só de janeiro a maio, foi de 47,01%.

Sendo mais direto, Baldez apontou justificativas para a demora nos reajustes do frete. “Você me pergunta o porquê existe essa dificuldade de repasse? Por uma razão simples, quando eu vendo o meu produto, o preço está fixado na ponta. O comprador já sabe o quanto vai pagar. E evidentemente, quando contrato o transportador, já há um valor estipulado para ele entregar o produto naquele destino. O que muitas vezes ocorre é que o preço do diesel durante esse período, é brutalmente alterado pela Petrobras. O transportador fica em uma situação, que ele vendeu o frete dele a X quando o combustível custava Y, e depois vem o aumento”, esclareceu chamando atenção para outro fato: o tempo de recebimento pelo frete, que segundo dados da NTC&Logística demora em média 42 dias para acontecer.

“Existe um descolamento entre o preço do frete, que foi contratado e o preço do diesel, que é o principal insumo, e que o governo vem reajustando. Eu não posso, como embarcador, no meio da viagem dizer – para aí, que eu vou reajustar o preço por conta do diesel! Isto é que tem gerado dificuldade”, respondeu ele.

O executivo também se colocou à disposição para conversar sobre os fluxos de pagamento e recebimento do frete, disse que isso pode ser negociado para que seja mais rápido, ainda que não de forma instantânea. Já em se tratando da recomposição, o grande problema apontado por ele foi a inflação.

“A defasagem é decorrente do ambiente inflacionário, no qual estamos vivendo hoje. Se a inflação fosse zero, e os preços fossem os mesmos durante um bom tempo, aí talvez, seria extinta a defasagem”. Mais uma vez, ele reforçou que o problema nos reajustes é decorrente da depreciação do valor da moeda nacional. “Você tem contratos que há previsão de reajustes anuais. Mas como a inflação está crescendo, esse valor fica defasado em relação ao tempo”.

Já para a economista do IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Cargas), Raquel Serini, ainda que contribua bastante, não é somente a inflação que faz com que os reajustes não liquidem a defasagem sofrida pelo setor. Ela informa que, o que mais favorece para isso existir é a grande oferta do serviço atualmente disponível no mercado.

“A oferta é muita, nem todos no mesmo nível de qualidade, e alguns contratantes priorizam apenas o preço. Há uma concorrência entre os próprios transportadores, alguns aceitam um frete muito barato, mas abrem mão de margem de lucro, e muitas vezes comprometem as despesas administrativas e tributárias”, aponta Serini.

“Nós queremos que o transportador seja o mais saudável possível, tanto em termos financeiros, quanto de qualidade de prestação do seu trabalho. Agora, precisamos de também que os transportadores nos digam as suas necessidades, para que aí possamos atuar em conjunto para viabilizar as demandas. A ANUT está à disposição”, propôs Baldez.

Luis Baldez, presidente executivo da ANUT


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