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03 de Dezembro de 2015 – 10h49 horas / Diário do Grande ABC

O mercado automotivo brasileiro segue com o freio de mão puxado. Em novembro, as vendas de veículos zero-quilômetro ficaram 33,7% menores na comparação com igual período do ano passado, quando contabilizada a comercialização de automóveis, comerciais leves (picapes), caminhões e ônibus. No acumulado do ano até agora, o desempenho é 25% menor do que nos mesmos 11 meses de 2014. De acordo com números divulgados ontem pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o setor emplacou 195 mil unidades no mês passado e, de janeiro a novembro, foram vendidas 2,341 milhões.

O resultado ruim no ano ocorre apesar de ligeira melhora (alta de 1,59%) nas vendas no mês passado na comparação com outubro, quando o segmento comercializou 192 mil veículos zero. Porém, esse desempenho não chegou a animar os representantes do setor. Na avaliação do presidente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), Octavio Vallejo, esse crescimento é pífio e se deve, entre outros fatores, ao Dia do Funcionalismo Público, no fim de outubro. “Com o feriado, as vendas ocorreram, mas não houve licenciamento, e houve um represamento que passou para novembro”, disse.

CAMINHÕES

Se, de forma geral, os números são bem negativos neste ano, no ramo de caminhões, a situação é pior. No mês passado, as vendas desses veículos caíram 61% frente a mesmo período de 2014 e contabilizam queda de 46% no acumulado do ano. “O mercado parou”, destacou o diretor de relações com o mercado da Fenabrave, Valdner Papa. Segundo ele, não surtiu efeito a reativação, em outubro, das operações da linha de crédito PSI – destinada a compras de caminhões e ônibus com juros reduzidos – até o fim do ano, depois de o governo ter interrompido a modalidade em outubro. “Depende de liberação adicional de recursos orçamentários”, explicou. A linha, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), era a principal para o segmento.

“Os bancos não estão operando (com o PSI)”, afirmou o vice-presidente da Ford América do Sul Rogelio Golfarb. A expectativa, segundo o diretor de operações de caminhões da Ford América do Sul, João Carlos Pimentel, é que o setor feche o ano com 70 mil unidades vendidas, 49% menos que as 137 mil de 2014. A Ford concentra a produção desses veículos no País em São Bernardo.

Segmento deve encolher 13% em 2016

As perspectivas de montadoras e representantes das concessionárias para 2016 são de continuidade da queda nas vendas. Durante evento ontem em São Paulo, o presidente da Ford América do Sul, Steven Armstrong, projetou que o segmento deve fechar o ano que vem com a comercialização de 2 milhões a 2,2 milhões de unidades, o que seria, na melhor das hipóteses, 13% menor do que os 2,5 milhões esperados para 2015.

Para ele, as crises econômica e política têm prejudicado o mercado nacional e ele avalia que pode haver início de recuperação só no segundo semestre do ano que vem. “No fim de 2014, ninguém imaginava que a situação (do mercado) seria tão dramática”, disse o executivo.

“O grande desafio da indústria é a falta de horizonte do planejamento. A Ford está acostumada a lidar com crises, mas a peculiaridade dessa é a incerteza de recuperação”, assinalou Rogelio Golfarb, vice-presidente da montadora. Apesar disso, segundo ele, a companhia segue acreditando no mercado nacional no longo prazo. A fabricante vai lançar 16 modelos em 2016, dos quais 10 caminhões e seis carros.

A demanda encolheu – em 2015, as vendas devem ficar 27% menores, de acordo com as estimativas da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) –, mas a Ford conseguiu melhorar sua participação. Cresceu 1,3 ponto percentual neste ano em fatia do total da indústria. “Estamos trabalhando para quando o mercado retomar”, afirmou Armstrong.

EXPORTAÇÕES

O dólar mais valorizado frente ao real não é suficiente para impulsionar as vendas de veículos brasileiros no Exterior, na avaliação de Golfarb. Segundo ele, houve melhoras pontuais nas encomendas da empresa no Brasil para a Argentina e para o México. “Teoricamente ajuda, mas temos um gap (diferença) de competitividade, mesmo com a desvalorização, não conseguimos concorrer com China, Índia e Tailândia”, disse.


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