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23 de Julho de 2018 – 15h38 horas / G1

A greve dos caminhoneiros impactou fortemente os indicadores econômicos dos meses de maio e junho. Além dos efeitos nesses meses, as revisões de projeções do crescimento para este ano indicam que os prejuízos da greve à economia devem se estender além dos 11 dias em que os caminhoneiros ficaram parados.

 

Um dos órgãos que piorou as expectativas para o crescimento da economia brasileira neste ano citando a greve entre as justificativas foi o Fundo Monetário Internacional (FMI). A projeção em abril para o Produto Interno Bruto (PIB) era de alta de 2,3%. Agora, é de 1,8%.

 

O próprio governo deve revisar as projeções. O ministério da Fazenda também deve reduzir de 2,5% para 1,6% a previsão de alta do PIB, segundo o colunista do G1 Valdo Cruz. O Banco Central já reduziu de 2,6% para 1,6%. Bancos, consultorias e analistas do mercado financeiro também pioraram suas expectativas para o ano, incluindo a greve em suas justificativas.

 

Confiança recua

A paralisação veio em um momento em que já havia incertezas sobre a economia. O cenário eleitoral incerto já estava sob as atenções dos empresários e consumidores, e o internacional desfavorável também preocupava (com o aumento da taxa de juros dos Estados Unidos e temores sobre uma guerra comercial). Com a greve, os índices de confiança, que já vinham apresentando sinais de recuo, ampliaram as perdas.

 

Analistas apontam que, além dos efeitos dos 21 dias de produção e comércio parados sobre a atividade econômica, a greve também teve impacto sobre a percepção de força do governo.

 

“Essa falta de reação do governo trouxe a sensação de que as instituições podem demorar muito tempo para resolver um problema e nos deixar reféns de uma categoria, como foi o caso”, analisa César Caselani, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

“Foi um baque muito grande no governo, o poder de reação foi mínimo”, concorda Carneiro. “O governo já estava fraco e ficou absolutamente debilitado, e isso contribui para colocar as expectativas para baixo”, complementa o economista, apontando que o questionamento que se faz é sobre a capacidade do governo de promover medidas para tentar reequilibrar as contas públicas.

 

Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, comenta os efeitos que a greve ainda pode causar, já que a maior parte das medidas que foram prometidas para encerrar a paralisação ainda estão em discussão.

 

"A tabela de fretes ainda em discussão, o preço do diesel nas refinarias que pode subir muito por conta do tempo represado. Tudo isso pode criar um elemento a mais de incerteza. [Esses fatores] podem fazer com que a gente tenha a sensação de que a greve dos caminhoneiros não foi uma coisa que passou", diz ela.

 

Economia parada

Os economistas afirmam que os agentes econômicos – empresários e consumidores – estão em “compasso de espera” para retomar a atividade.

 

“O governo perdeu confiança, e isso atrasa os investimentos. Gente que estava pensando em investir resolveu segurar. No fundo, o que está acontecendo é que todo mundo está esperando a eleição acabar”, diz Carneiro.

 

“Eu acho pouco provável que alguma coisa mude antes das eleições”, concorda o professor Caselani. “Não dá para a gente sonhar com a volta do crescimento sem a volta da confiança dos agentes econômicos. Se eu não melhorar a perspectiva de emprego ou de abrir uma nova empresa, por exemplo, nem consumidores nem empresários vão dar uma guinada em termos positivos”.

 

Dados já fechados

Além da queda nas projeções para a economia do ano, alguns indicadores já mostram as perdas de diversos setores nos meses afetados pela greve. Um deles é o que mede o desempenho dos serviços, que tem peso importante no PIB. A queda foi de 3,8% no mês em que começou a paralisação.

 

Também em maio, a produção industrial despencou 10,9%, enquanto a produção de veículos no Brasil caiu 15,3%. Já as vendas no comércio recuaram 0,6%, a primeira queda registrada neste ano.

 

Enquanto isso, a inflação voltou a ganhar força. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 1,26% em junho, na maior taxa para o mês de junho desde 1995.


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