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22 de Janeiro de 2018 – 04h12 horas / DCI

A forte valorização das cotações do petróleo traz a preocupação com o impacto nos preços dos combustíveis no Brasil, já que o cenário de alta deve persistir no primeiro semestre, avaliam especialistas.

 

Além das consequências do acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia para a redução da produção, choques de oferta durante as últimas semanas contribuíram para a alta dos preços, incluindo eventos como os rompimentos em oleodutos na Líbia e no Mar do Norte, a onda de frio no Hemisfério Norte e as constantes tensões geopolíticas do Oriente Médio.

 

“Vínhamos de um mercado sobreofertado desde 2014 no setor. Mas desde que a Opep usou o artifício, liderado pela Arábia Saudita, de reduzir a produção nos últimos meses, há um claro objetivo de pressionar os preços do petróleo para cima”, diz a pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado.

 

A expectativa é que a Opep examine o andamento do acordo de corte de produção entre maio e junho, quando deve ser definida a manutenção ou não da medida.

 

De acordo com a especialista da FGV, outro fator que vem influenciando os preços é a iniciativa do governo da Arábia Saudita de fazer a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) de sua petroleira estatal, a Saudi Aramco. Ela acrescenta que esse processo vai ser alavancado pela quantidade de reservas e potencial de produção.

 

“O IPO dessa empresa vai ficar interessante se os preços do petróleo estiverem valorizados no mercado internacional. A Arábia Saudita é um membro da Opep que consegue acionar e desacionar grandes quantidades de petróleo no mercado”, diz Fernanda, avaliando que até o final do processo do IPO não deverá ocorrer uma retomada mais consistente da produção.

 

De acordo com estimativas do mercado, a abertura de capital da empresa saudita poderia ocorrer até meados deste ano, podendo se transformar na maior capitalização via mercado de capitais realizada até hoje.

 

Recorde

Nos últimos dias, o petróleo tipo Brent chegou a bater a casa dos US$ 70 pela primeira vez em três anos. Segundo o analista da consultoria Tendências, Walter de Vitto, outro fator importante de ascensão dos preços são os baixos estoques nos EUA, que anunciaram que suas reservas haviam caído mais do que o esperado pela nona semana consecutiva. “Isso indica que os cortes da Opep surtiram efeito”, diz Vitto, em referência ao movimento de redução da produção, iniciado no final de 2016, mas que começou a se refletir efetivamente na alta dos preços apenas a partir dos últimos meses do ano passado.

 

Segundo ele, outro fator que contribui para um movimento de alta é o da aceleração do ritmo de crescimento da economia mundial, que de acordo com as projeções da Tendências poderia chegar a 3,7% neste ano. Em 2016, o PIB mundial avançou 3,2%.

 

“Essa mudança de patamar de ritmo de crescimento da economia global está batendo no aumento da demanda. Por um lado, há o ajuste da produção da oferta, e por outro um incremento da procura pelo petróleo”, acrescentou Vitto.

 

Preços

Ao mesmo tempo em que a alta na cotação do petróleo ajuda o Brasil no incremento das exportações, causa impacto em relação aos preços dos combustíveis no mercado interno. Desde julho do ano passado, a política de reajuste da gasolina, do diesel e do gás de cozinha pela Petrobras está alinhada às cotações internacionais.

 

“Uma série de reajustes foi feita, quase sempre para cima”, diz Fernanda. Ela ressalta que a consequência desse incremento se reflete na redução de consumo do combustível em alguns centros urbanos.

 

Ao acompanhar a cotação internacional, a Petrobras evita a situação enfrentada entre 2011 e 2015, quando a companhia operou no prejuízo na área de abastecimento ao vender combustível com preço inferior ao custo de importação. Esse comportamento acaba ajudando o governo a atrair investidores para as rodadas de leilões de exploração de petróleo.

 

“Somente com os preços alinhados ao mercado internacional é que vamos conseguir trazer investidores ao País. O fim do tabelamento do combustível, que era ditado pelo governo, só trazia insegurança”, avalia a especialista da FGV. “A nova política acaba se mostrando acertada principalmente neste momento em que o governo busca elevar suas receitas”, complementa Fernanda.


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