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26 de Março de 2018 – 15h45 horas / DCI

Atividade fraca e inércia manterão a inflação em níveis mais baixos do que as projeções feitas no início de 2018, fazendo com que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique mais próximo do piso da meta (3%) em 2018, pelo segundo ano seguido.

 

Em 2017, o IPCA teve alta de 2,95% e economistas consultados projetam inflação entre 3,4% e 3,7% para 2018. O centro da meta é 4,5%. Este cenário de preços mais baixos reforça a perspectiva de que o Banco Central realize um corte adicional na taxa básica de juros (Selic).

 

Ao listar os fatores que têm segurado a inflação em níveis menores, o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Silber comenta que a queda acumulada de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2015 e 2016, provocou um enorme encolhimento na demanda e do crédito, fazendo com que ficasse praticamente “impossível” para as empresas repassarem seus custos para os preços dos produtos.

 

Esse processo, ao lado do aumento exponencial da taxa de desemprego, derrubou a inflação de serviços que, geralmente, acumulava variações acima do IPCA oficial. “Ainda vemos uma inércia muito forte no setor [de serviços], resultado do efeito defasado que o desemprego tem sobre os preços”, observa o economista da Tendências Consultoria, Mário Milan, que, na semana passada, revisou de 4,1% para 3,7% a projeção de inflação.

 

O economista da Mongeral Aegon Investimentos, Breno Martins, reforça que o núcleo da inflação de serviços está rodando em 3,5%, próxima ao núcleo do IPCA cheio, que está 3%, algo que não costumava acontecer. “A inflação subjacente de serviços sempre ficava acima do IPCA”, destaca Martins. O núcleo da inflação é calculado excluindo os itens que são mais impactados por eventos temporários. A Mongeral espera que o IPCA feche o ano com elevação de 3,4%.

 

Para Silber, o “buraco” na economia gerado pela recessão faz com que o ritmo de recuperação da atividade, hoje, seja pífio. “Como a taxa de desocupação está alta, a prioridade das pessoas é se manter no emprego, ao invés de pedir aumento de salário”, diz Silber, comentando que as famílias perderam 10% do seu poder aquisitivo durante a crise.

 

“A renda está aumentando muito pouco em cima de uma perda enorme que ocorreu durante a recessão. O brasileiro está mais pobre”, reforça. “Crescemos 1% em 2017, após uma retração de 7%, o que significa que estamos 6% abaixo da produção de 2014. Ainda que o PIB avance 2,5% neste ano, ainda estaremos abaixo”, complementa o professor.

 

Investimento

Silber destaca ainda que a redução da Selic não chegou na ponta do consumo, ou seja, não reduziu significativamente o custo do crédito. “Além disso, está todo mundo pisando em ovos com o cenário político. Ninguém está investindo”, diz.

 

Milan, da Tendências, pontua que os preços dos bens industrializados não estão reagindo à recuperação da atividade econômica, efeito da elevada capacidade ociosa.

 

Silber acrescenta que a trajetória comportada do câmbio, desde 2016, tem permitido ao Brasil importar produtos e insumos mais baratos, diminuindo o custo de produção.

 

A safra agrícola, por sua vez, que bateu recorde em 2017, permanece positiva provocando baixa nos preços dos alimentos, que são 40% da cesta do IPCA. Na prévia da inflação de março divulgada ontem, o grupo de alimentos e bebidas apresentou retração 0,02% ante fevereiro. No primeiro trimestre, o grupo acumula alta de 0,82% e, em 12 meses, deflação de 1,47%.

 

Martins, da Mongeral, prevê que os preços dos alimentos cresçam 3,4% neste ano, contra queda de 2% observada no ano passado. Por outro lado, ele avalia que, com a quebra de safra de soja da argentina, o preço do grão pode acabar subindo. “Estamos mapeando esse movimento”, diz Martins.

 

O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), André Braz, destaca, por sua vez, que os auto-embargo do Brasil para a exportação de carnes elevou a oferta do alimento no País, barateando os preços. Ele projeta que o IPCA feche o ano em 3,6%. Braz pondera que ainda poderemos ver aumentos nos preços de energia e que o repasse de custos das empresas aos seus produtos tendem a se acelerar no segundo semestre. “Não dá para segurar preços por muito tempo”, afirma o pesquisador do Ibre-FGV.

 

Prévia

Na última sexta-feira (23), o IBGE divulgou que a prévia do IPCA, o IPCA-15, teve alta de 0,10% em março, a menor taxa para o mês desde o ano 2000, quando a inflação foi de 0,09%. A taxa em 12 meses recuou de 2,86% em fevereiro para 2,80% em março, o resultado mais baixo desde novembro de 2017.


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