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08 de Janeiro de 2018 – 03h37 horas / Correio Braziliense

Depois de três anos seguidos de resultados negativos, 2017 foi para a indústria automobilística brasileira uma espécie de redenção. Com vendas totais de 2,24 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, o que representa crescimento de 9,2% ante 2016, e produção de 2,7 milhões (alta de 25,2%), o setor automotivo encerra o ano comemorando, mas preocupado com 2018 — apesar de as projeções indicarem resultados ainda melhores que 2017.

 

“São números para festejar, mas não se pode esquecer que ainda temos uma capacidade ociosa muito grande, de 47% em toda a indústria automotiva. Em caminhões, está próximo de 75%”, pondera o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.

 

Pelas projeções da Anfavea, as vendas devem chegar a 2,5 milhões de veículos e a produção, a 3 milhões de unidades, alta de 11,7% e 13,2%, respectivamente. Se os números forem confirmados, será o retorno ao patamar de crescimento de dois dígitos alcançados antes da crise econômica. Em 2013, as vendas atingiram 3,8 milhões de autoveículos, o recorde do setor.

 

“Achamos que o mercado interno vai começar a dar os primeiros sinais de uma recuperação mais vigorosa, ainda melhor do que aconteceu este ano e, com isso, vamos continuar aumentando a produção”, diz Megale. O executivo estima, porém, que as montadoras só conseguirão repetir os números recordes de quatro anos atrás entre 2022 e 2025.

 

Para chegar aos resultados previstos para 2018, Megale espera que as condições econômicas mantidas até agora permaneçam ao longo do ano. Segundo ele, o período eleitoral é uma incógnita, mas não deverá trazer grandes preocupações, apesar da indefinição dos candidatos que vão concorrer à presidência. Mesmo que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, concorra em outubro, Megale acredita que 2018 será melhor do que 2017 não apenas para o seu setor, mas para toda a economia. “O ano passado foi complexo, mas trouxe inúmeras oportunidades”, afirma.

 

O executivo diz esperar que a equipe de Meirelles, mesmo com uma eventual candidatura presidencial, seja mantida até o fim do governo. Sobre a recente saída de Marcos Pereira do Ministério da Indústria e Comércio (Mdic), considerado um dos “aliados” para a aprovação do Rota 2030, o novo regime automotivo que vai substituir o Inovar-auto, Megale declara que a Anfavea continuará trabalhando com a equipe econômica para que o novo programa seja anunciado até o fim de fevereiro.

 

Nesse sentido, e sem dar detalhes sobre as mudanças que serão feitas, Megale afirma que o próprio presidente Michel Temer comprometeu-se com o anúncio do programa no próximo mês. Megale salienta, entretanto, que o Rota 2030 é um programa que prevê a organização do setor a médio e longo prazos e que não haverá nenhuma medida protecionista.

 

Segundo o presidente da Anfavea, o que está previsto é um apoio maior a investimentos em pesquisa e desenvolvimento, estimulando assim projetos relevantes de inovação. Megale, porém, diz não saber se alíquotas do IPI do Inovar-Auto serão mantidas. “O importante é que metas de segurança e eficiência energética serão preservadas até 2022. Ressalto que não podemos ficar sem o Rota este ano, porque todo país que tem uma grande indústria automobilística e um mercado gigante como o nosso precisa de programas desse tipo”, diz ele.

 

A melhora nos números de produção e venda repercutiu positivamente no nível de emprego das empresas do setor. Os| indicadores subiram 4,6%, passando de 121 mil trabalhadores em dezembro de 2016 para os atuais 126,7 mil.

 

O aumento dos níveis de emprego levou as montadoras a recontratar os profissionais que estavam afastados, seja pela suspensão temporária de contrato (lay-off), seja pelo Programa de Proteção ao Emprego (PSE). O projeto do governo federal permite a redução de salários e horas trabalhadas em momentos de retração da atividade econômica, mantendo assim o trabalhador vinculado à empresa.

 

Pelos dados da Anfavea, em dezembro de 2016 cerca de 9 mil trabalhadores tinham algum tipo de restrição na jornada de trabalho, número que caiu para 1.885 em dezembro de 2017. “Isso mostra a importância desses programas na questão de flexibilidade do emprego. Todos os postos foram preservados”, garante Megale. Houve também um avanço nas vendas de carros elétricos e híbridos em 2017. Apesar de ainda representar em um volume muito pequeno, foram comercializadas 3,3 mil unidades, número três vezes maior do que em 2016.

 

De acordo com o balanço divulgado pela Anfavea, a indústria virou o ano com um estoque 219,1 mil unidades, número suficiente para 31 dias. No setor, a marca considerada ideal é de 30 dias. Os números positivos vêm de todos os lados. As vendas em dezembro totalizaram 212,6 mil veículos, o segundo melhor resultado do ano. A rápida recuperação da indústria automobilística mostra que não é preciso muito esforço para o setor voltar a acelerar. Basta a economia do país tirar o pé do freio para os carros saírem das concessionárias.

 

Empresas buscam novos mercados

As exportações de veículos bateram o recorde histórico da indústria automobilística em 2017. Foram 724,6 mil unidades, um crescimento de 48% em relação aos 488,8 mil embarcados entre janeiro e dezembro de 2016. Na comparação com 2005, quando foram exportadas 725 mil, a alta foi de 5,1%. Em valores, foram US$ 12,8bilhões, contra US$ 8,9 bilhões em 2016, alta de 44,4%.

 

“Estamos vivendo uma fase muito boa nas exportações, e isso ajudou bastante no aumento da produção e na geração de empregos”, disse o presidente da Anfavea, Antonio Megale, que aposta em um novo recorde em 2018, com mais de 800 mil unidades exportadas.

 

Em 2018, os resultados positivos serão reflexo também dos acordos de intercâmbio comercial com países da América do Sul. Megale cita o fechamento recente do acordo com a Colômbia, que prevê para este ano uma cota de 25 mil veículos por mês, livres de impostos. Ao contrário de outros anos, Megale diz que a exportação de veículos é um negócio que veio para ficar. As montadoras, cada uma à sua maneira, estão prospectando e abrindo mercados em vários continentes, além da América Latina.

 

Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea, diz que alguns fabricantes já estão tentando fechar negócios com caminhões no Oriente Médio e ns África. Mudança de foco em função de um mercado interno menor, câmbio favorável e melhorias tecnológicas nos veículos produzidos no Brasil foram apontados como os principais fatores para a disparada dos embarques, em especial aos países vizinhos que tiveram crescimento econômico. Argentina e Uruguai são os principais parceiros, com mais de 80% do total. Para este ano, a previsão da Anfavea é de exportar 800 mil unidades.

 

A importação de veículos, tradicional fantasma para as montadoras instaladas no Brasil, também cresceu e já representa 10% das vendas. Para 2018, quando as alíquotas de importação deverão cair bastante, a Anfavea prevê que esse mercado cresça 5%.


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